Uma estátua do apóstolo Mateus, o cobrador de impostos, na nave de San Giovanni in Laterano, em Roma, Itália. |
A CONVOCAÇÃO DO PUBLICANO MATEUS
Depois do grande milagre em que Jesus havia, de modo hábil, unido a lógica à ação, ele deixou aquela casa e saiu para a cidade, indo até a praia, junto ao lago, onde foi alcançado por uma considerável multidão e, como sempre fazia, distribuiu o pão da palavra.
Quando terminou de pregar, continuou caminhando à margem do lago. Já dissemos antes que a cidade de Cafarnaum, por sua localização próxima às estradas comerciais mais utilizadas daquela época, era depósito e lugar de passagem de enormes quantidades de mercadorias transportadas do Oriente ao Ocidente, e vice-versa. Mas nada passava por aquele centro comercial sem que os donos das mercadorias pagassem uma taxa. Isso porque, assim como em Jericó, existia naquela cidade um importante posto da alfândega, e era muito grande ali o número de publicanos e de outros cobradores de impostos.
Um desses funcionários estava, naquele momento, sentado à sua mesa de trabalho, improvisada e simples, feita de tábuas, de onde vigiava o caminho até o porto. Marcos e Lucas dizem que ele se chama Levi. E o primeiro acrescenta que era filho de Alfeu, mas de um Alfeu que não deve ser confundido com o pai de Tiago, o Menor (Mt 10.3; Mc 3.17; Lc 6.15; At 1.13). Porém, Levi era mais conhecido como Mateus, conforme é chamado no primeiro evangelho (Mt 9.9). O nome Levi é judeu; Mateus, ou Mattai, que significa "dom de Deus", provavelmente lhe fora dado por Jesus, se é que ele já não usava esse nome, pois alguns judeus o faziam.
Jesus lhe disse: Segue-me (Mc 2.14), convidando-o, com esse apelo, a tornar-se seu discípulo. Com palavras idênticas, o Senhor havia chamado também Pedro, André, Tiago e João, quando estavam em pleno exercício de suas funções habituais. Idêntico também foi o resultado: E, levantando-se, o seguiu.
A atitude de Mateus foi imediata e completa, mas com uma diferença: os pescadores poderiam retornar ao seu ofício quando quisessem, mas era moralmente impossível a um publicano voltar a ocupar a sua posição depois de tê-la abandonado.
O chamado de Jesus e o generoso sacrifício de Levi já estavam, certamente, preparados. Não era a primeira vez que o Mestre e o discípulo se encontravam em Cafarnaum, para onde o Senhor voltava com muita frequência. Mas ainda que a conversão do publicano tivesse sido em um rápido instante, esse fenômeno psicológico estaria em perfeita consonância com o admirável poder de atração que Jesus exercia sobre as mentes e os corações.
Outra coisa que deve ser admirada é que Jesus não vacilou ou hesitou em eleger como seu discípulo, e depois apóstolo, um homem que pertencia a uma classe muito desacreditada e criticada, cujos profissionais eram tidos, na opinião geral, como pecadores públicos. Mas Jesus, julgando-o útil para sua obra, teve a santa ousadia de enfrentar seus compatriotas e, nessa mesma ocasião, ouvimo-lo justificar sua conduta (Mt 5.46,47; 11.19; 18.17; 21.31,32; Lc 3.12; 7.29,34; 15.3; 18.9-14; 19.7).
Pouco depois depois dessa cena, às margens do lago, Levi realizou, em sua casa e em homenagem ao seu novo Mestre, um solene jantar, para o qual convidou também, a fim de despedir-se deles, seus antigos colegas; o que não deixou de ser uma ocasião ideal para que os fariseus manifestasse novamente suas críticas contra Jesus.
Sentar-se à mesa com publicanos e outros pecadores era, de acordo com os críticos de Jesus, um verdadeiro escândalo. Até porque, para os orientais, participar de uma mesma refeição significava relacionamento muito estreitos. Por esse motivo, os rígidos observadores da lei mosaica, mesmo depois de convertidos ao cristianismo, eram extremamente preconceituosos com relação a esse tipo de situação (At 11.3; Gl 2.12).
Os rabinos proibiam seus discípulos de comerem em companhia do "povo da terra", ou seja, da plebe sem instrução. E os proibiam muito mais de comerem em companhia de homens de conduta suspeita. Mas não se atreveram a criticar diretamente Jesus, pois a experiência lhes havia ensinado a temer suas respostas contundentes. Foram, pois, em busca dos discípulos de Jesus e lhes perguntaram: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? (Mt 9.11)
O Salvador, que havia ouvido a maliciosa pergunta de seus adversários, quis lhes dar, por si mesmo, a resposta: Não necessitam de médico os sãos, mas sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento (Mt 9.12,13).
Esta curta explicação não deixava nada a desejar. Ela se compõe de três partes: de um provérbio popular, de um texto tirado do Antigo Testamento e de uma razão de congruência.
O provérbio, que se acha com algumas curiosas variantes nas literaturas clássicas, expressa um fato da experiência cotidiana. Os médicos não costumam estar perto das pessoas sadias, mas, sim, dos enfermos. Se os convidados, entre os quais se encontrava Jesus, eram pecadores, não seria esse o lugar adequado para ele, como Médico que era das almas?
A frase: Misericórdia quero e não sacrifício, extraída de Oséias 6.6, significa que Jesus cooperava muito para os desígnios de Deus, acolhendo com mansidão os pecadores, então se mostrando duro e inflexível para com eles como os escribas e os fariseus. Os sacrifícios cruentos eram necessários, a lei os exigia por causa do pecado, mas o Senhor de Israel queria misericórdia para com o próximo, ainda que este fosse culpado de pecados [e não ódio e aversão e, depois, sacrifícios para compensá-los].
Finalmente, não seria o ofício do Messias converter e salvar os pecadores? Algum dia, Jesus desenvolveria esse pensamento na parábola da ovelha perdida que foi encontrada (Mt 18.10-14; Lc 15.1-7).
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Filipenses 1:9-11