O AT e o NT dizem coisas diferentes sobre a morte e a vida após a morte. No NT, a ressurreição de Cristo é a base de nossa fé agora e de nossa esperança de vida após a morte, como Paulo explica em 1Co 15. Mas no AT há pouquíssimas referências a uma vida significativa após a morte, e muitos textos dão a entender que esta vida agora é que importa (p.ex. Sl 39.13).Posições do Antigo Testamento com relação ao pós-morte.
Isto não deveria nos surpreender. Após a sua transfiguração, Jesus falou aos discípulos sobre sua futura ressurreição, mas eles não entenderam o que isto significava (Mc 9.10). Mais tarde, Paulo escreveu que Jesus "trouxe à luz a vida e a imortalidade" (2Tm 1.10). Em outras palavras, antes de Cristo (isto é, no período a.C.) as pessoas tinham pouco conhecimento sobre a vida eterna.
A ênfase que, no AT, se dá à vida neste mundo explica algumas das outras importantes diferenças em relação ao NT. Por exemplo, a ausência de recompensa ou castigo após a morte explica por que os justos querem ser recompensados agora e pedem que os ímpios sejam castigados nesta vida. É a única maneira pela qual, segundo eles, a justiça de Deus podia ser manifestada.
O abismo e os mortos
Muitos povos do antigo Oriente Próximo acreditavam que, ao morrer, todos desciam ao abismo. Este era um lugar sombrio e triste debaixo da terra, dominado por vários deuses. Quem ia para lá tinha uma existência sombria e inerte e não havia como sair daquele lugar. Os hebreus chamavam esse abismo de Sheol. Isaías fez uma breve descrição poética dele (Is 14.9-11): quando o poderoso rei da Babilônia descer para lá, seus habitantes terão que ser acordados para saudá-lo, e ele se tornará tão fraco e importante quanto eles. Jó considera-o um lugar de descanso (Jó 3.11-19).
No entanto, o pensamento dos israelitas sobre o abismo e os mortos era diferente da visão de seus vizinhos, e isto em vários pontos importantes:
• Ao contrário de vários poemas mesopotâmicos antigos que contêm descrições detalhadas, o AT demonstra pouco interesse pelo abismo. A morte e o morrer são mencionados cerca de mil vezes, mas o abismo só aparece umas cem vezes. E há pouca descrição. A morte era inevitável, mas os israelitas geralmente não se preocupavam com a vida após a morte. O Deus de Israel era o Deus dos vivos, e seu povo devia reconhecê-lo nesta vida.
• Talvez muitos israelitas, como seus vizinhos, acreditassem que todos iam para o abismo. Um texto (Ec 9.10) sugere isto. No entanto, na maioria dos textos relevantes, são os ímpios que devem ir para o Sheol (p. ex. Sl 9.17), e não os justos (p. ex. Sl 30.3). As pessoas boas só falavam em ir para lá quando pensavam que Deus as estava castigando (p. ex. Gn 37.35; Jó 14.13), ou que ele estava julgando toda a humanidade (Sl 49.7-9; 89.48). Portanto, o Sheol é, em geral, considerado um destino indesejável. Ao mesmo tempo, não há menção de castigo no Sheol (ao contrário do inferno no NT).
• Consultar os mortos era estritamente proibido (Dt 18.10-11). O relato de Saul e da médium de En-Dor (1Sm 28) mostra que era possível, mas Saul foi severamente condenado pelo espírito de Samuel. Isaías também condenou os israelitas, séculos depois (Is 8.19). O povo de Deus devia buscar o Senhor para orientação e apoio, não os mortos ou supostos deuses do abismo.
• Os israelitas não veneravam os ancestrais mortos. Alguns povos vizinhos faziam isto em festas regulares, mas não há menção disto no AT. Os túmulos das famílias eram abertos na rocha. Dentro deles, havia saliências em forma de leito sobre os quais eram colocados os defuntos, para entrarem em decomposição. Quando se precisava do túmulo novamente, os ossos do cadáver anterior eram simplesmente colocados numa cova no centro e aquele lugar era reutilizado. Os ossos não tinham significado especial. O texto de Dt 26.14 refere-se a uma oferta no sepultamento ou a uma refeição no funeral (compare Jr 16.5), pois depositar alimentos regularmente em túmulos certamente seria condenado.
Vida após a morte
Dois homens do AT escaparam da morte e foram levados diretamente à presença de Deus: Enoque (Gn 5.24) e Elias (2Rs 2.1). Mas nenhum israelita jamais orou para ser levado ao céu com eles, o que mostra que eles eram certamente vistos como exceções. No entanto, alguns salmistas claramente acreditavam que evitariam o Sheol e continuariam em comunhão com Deus (Sl 16.10-11; 49.15; 73.24). Estes autores vislumbraram pela fé um destino alternativo ao abismo.
A declaração triunfante de Jó (Jó 19.26-27) parece apresentar uma vibrante confiança na vida após a morte. Este pode ser o caso, mesmo indo contra o que Jó diz antes e depois disto (p. ex. 17.13-16; 21.23-26). Mas infelizmente neste caso o texto hebraico é difícil de interpretar, como as notas da maioria das traduções indicam, o que faz com que não se tenha certeza a respeito disso.
Ressurreição
A idéia de ressurreição é rara no AT, e surge em tempos de crise extrema. A idéia aparece pela primeira vez por Oséias, como metáfora para descrever a restauração da nação após seu castigo e exílio (Os 6.1-3). Depois, aparece com mais detalhes em Ezequiel (37.1-14). A ressurreição de seres humanos aparece pela primeira vez numa passagem apocalíptica em Isaías (26.19), mas somente para o povo perseguido de Deus, não seus inimigos (compare o v. 14). Uma ressurreição mais geral é mencionada apenas em Daniel. Ela resulta em vida eterna para os justos e vergonha eterna para os outros (Dn 12.2).
Estas passagens representam uma crença na vida feliz após a morte que vai se desenvolvendo aos poucos, e que foi ampliada ainda mais em diversos livros judaicos escritos no período entre os testamentos. Porém, ainda havia uma grande variedade de posições, conforme se pode ver na divergência entre saduceus e fariseus (At 23.8). Somente a ressurreição de Jesus "trouxe à luz a vida e a imortalidade" (2Tm 1.10).
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Filipenses 1:9-11