O TEXTO E A MENSAGEM
O estudo acadêmico da Bíblia ("crítica bíblica") tem sido dominado por várias ênfases diferentes que se revezam na posição de destaque.
A primeira é a ênfase história. o método histórico-crítico, desenvolvido na Alemanha no século 19, foi adotado por estudiosos da Inglaterra e dos Estados Unidos no início do século vinte.
Este método era crítico, porque lia a valiava o texto bíblico do ponto de vista da cosmovisão moderna. Era histórico, porque usava ferramentas históricas desenvolvidas pela filosofia moderna da história.Também era histórico no seu interesse, não tanto pelo texto na sua forma atual quanto pela história do texto e dos acontecimentos a que se refere.
Os principais tipos de análise dos textos bíblicos que surgiram desta abordagem foram:
• Crítica textual - Tem como objetivo definir os textos hebraicos e gregos mais confiáveis do Antigo e do Novo Testamento.
• Crítica das fontes - Preocupa-se com as fontes por trás do texto.
• Crítica da forma - Preocupa-se com a forma ou gênero de pequenas unidades de texto e a origem do seu gênero na vida comunitária de Israel.
• Crítica da tradição - Preocupa-se com a origem e o desenvolvimento dos temas bíblicos na vida de Israel.
• Crítica da redação (do alemão redaktor, que significa editor) - Preocupa-se com a maneira em que o texto foi editado na sua forma final.
Um grave problema do método histórico-crítico é sua incapacidade de focalizar os livros da Bíblia na sua forma atual.
Não é de admirar que, na década de 1970, tenha surgido, em reação a esse problema,uma ênfase literária. Essa nova ênfase focalizava os livros bíblicos como textos literários e os explorou deste ângulo. A forma narrativa que caracteriza a maior parte da Bíblia recebeu uma atenção renovada e novos assuntos, tais como o papel do narrador, a forma do enredo, e a descrição e o desenvolvimento dos personagens, passaram a ser explorados.
No final da década de 1970 algumas novas tendências radicais começaram a aparecer no campo da teoria literária. Movimentos como o "pós-estruturalismo" e o "desconstrutivismo" levantaram questões como: "Os textos possuem significados que podemos descobrir, ou os leitores constroem estes significados, de forma que há tantos significados quantos forem os leitores?"
Por causa da ênfase literária presente na área da pesquisa bíblica, era inevitável que estes novos movimentos na teoria da literatura logo se manifestariam também no campo da teologia bíblica. E nos últimos anos estas novas questões foram aplicadas à Bíblia.
Pelo fato de representarem uma reação a teorias modernas,estas novas abordagens geralmente são conhecidas como pós-modernismo levantou questões complexas sobre textos, autores, leitores e o mundo, sugerindo que os textos não têm significados únicos e que seu significado depende em grande parte do(s) leitor(es).
Sob a categoria geral de pós-modernismo tornou-se comum os estudiosos fazerem leituras desconstrutivistas, feministas, etc., dos textos bíblicos. Uma leitura desconstrutivista irá, por exemplo, procurar lugares num texto nos quais há tensão entre a mensagem geral e aquilo que um pequeno trecho do texto pode estar dizendo. Desta forma o desconstrutivismo expõe contradições que procura localizar e espera encontrar em todos os textos. Uma leitura feminista examinará como as mulheres são ou não são retratadas nos textos bíblicos.
O efeito do pós-modernismo sobre os estudos bíblicos foi minar a crítica histórica dominante, sem deixar nenhum método principal em seu lugar. A impressão que se tem atualmente é de uma variedade de abordagens interpretativas dentre as quais podemos escolher, simplesmente por questão de preferência pessoal. Na comunidade acadêmica mais ampla não há consenso com relação à maneira correta de ler a Bíblia ou de prosseguir nos estudos bíblicos.
A interpretação bíblica está em crise!
Mais recentemente, há sinais de preferência pela ênfase teológica, com alguns estudiosos argumentando que os estudos bíblicos exigem uma teoria cristã de interpretação. Isto significa que nossa abordagem da Bíblia deve ser baseada numa perspectiva bíblica do mundo, e que devemos ler a Bíblia acima de tudo para ouvir o que Deus quer nos dizer através dela.
"Por várias décadas, o estudo do Antigo Testamento esteve muito preocupado em olhar através do texto para aquilo que poderia ou não estar por trás dele. Os estudiosos viam o texto como uma janela...
No entanto, coisas animadoras estão acontecendo. Desde meados da década de 1970... surgiram muitos livros que abordavam o texto não como uma janela, mas como uma foto. Eles se preocupavam em olhar para o texto, para o que ele diz e como diz. Eles encorajavam... um compromisso, um prazer com ele. O exercício da interpretação que promoveram... fez com que a imaginação agisse, e as emoções... Isso convidava o leitor a prestar atenção ao texto.
Uma grande vantagem dessa abordagem é que ela não exige uma grande quantidade de conhecimento sobre o assunto antes de começar. O leitor 'comum' pode tentar."
Trevor Dennis
Dois itens em particular devem ser analisados com relação a esta história de ênfase diferentes:
• A narrativa cristã ou maneira cristã de ver o mundo está relacionada com a vida em seu todo. Logo, uma teoria bíblica de interpretação deveria ser moldada pela narrativa cristã. Neste sentido a ênfase teológica é correta.
• Precisamos de uma abordagem integrada à interpretação bíblica. Os aspectos histórico, literários e teológicos dos textos bíblicos são todos importantes. Uma compreensão adequada da Bíblia significa estar alerta a todos eles e como se relacionam uns com os outros -- aproveitando seus discernimentos diferentes e integrados-os numa teoria cristã de interpretação. Na minha opinião, a melhor maneira de fazer isto é adotar o que se pode chamar de modelo de comunicação e valiar os textos bíblicos em termos de:
EMISSOR
MENSAGEM
RECEPTOR
Se as Escrituras são primeiramente a Palavra de Deus para nós, esta deve ser a moldura dentro da qual lemos esses textos.
No entanto, ouvimos a Palavra de Deus através da mensagem do emissor original e é aí que o árduo trabalho da interpretação deve ser feito.
Um modelo de comunicação da interpretação bíblica focalizará o texto na sua forma final, empregando todas as suas energias para nos ajudar a entender a mensagem.
A análise das fontes do texto é um elemento importante neste processo. Os textos bíblicos foram escritos em épocas e culturas diferentes das atuais e conhecimento de hebraico, aramaico, grego e línguas associadas, conhecimento de contexto cultural no qual o texto foi escrito, e assim por diante, são elementos vitais na interpretação.
A análise de fontes deve, no entanto, ser um subsídio para entendermos a mensagem do texto. E o estudo de fontes deve estar relacionado com o entendimento do texto assim como o temos.
O conhecimento do contexto também tem um papel importante na avaliação do tipo do texto com que estamos lidando, seja ele sabedoria, narrativa ou profecia, por exemplo. Mas isto também deve nos ajudar a focalizar o texto específico e sua estrutura peculiar.
O resto da Bíblia também é parte importante do contexto de cada livro: a investigação disto também deve ajudar a explicar a mensagem de cada um dos livros.
O objetivo de um modelo de comunicação de interpretação é ouvir a mensagem de cada livro da Bíblia no contexto das Escritas como um todo. Se entendermos aspectos da história de um texto e algo sobre sua forma literária, mas não ouvimos a mensagem, nossa interpretação será falha. O alvo de nosso trabalho interpretativo deve ser o discernimento da mensagem do texto, primeiro para seus ouvintes originais e depois para os leitores atuais. Há um reconhecimento crescente, e correto, do papel do leitor na interpretação. Reconhece-se que os leitores inevitavelmente trazem sua leitura. Uma questão questão essencial é se há ou não visões corretas a serem trazidas.
Na minha opinião, a resposta é "sim"! A forma mais adequada de se ler as Escritas é ler os textos a partir da profunda convicção de que esta é a Palavra de Deus, e o melhor que um leitor pode fazer é ler desta maneira. Isto não significa que não existiam questões difíceis na interpretação: certamente existem. Mas a análise da Bíblia a partir de uma cosmovisão bíblica permitirá que os problemas reais surjam, sem criar problemas onde eles não existem.
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Filipenses 1:9-11