מצרים(Egito)
Assim como a história da Suméria e da Babilônia, também a história do Egito é muita rica e se estende ao longo de 30 séculos. Tudo começou por volta de 3000 a.C., quando o vale e o delta foram unidos sob o governo de um só rei. Os hieróglifos, um sistema de escrita feito, em parte, de ideogramas, mal haviam sido inventados. A longa série de reis ou "Faraós" compreende 30 famílias reais ou dinastias. Mas é mais fácil o período que vai de 3000 a 300 a.C. em sete etapas ou eras: a inicial (era arcaica); três eras de grandeza (Reino Antigo, Reino Médio, e Reino Novo), separadas pelo primeiro e segundo períodos intermediários de dissensão; e o período final, que trouxe a derradeira decadência.
Em tempos mais recentes, foram feitas tentativas de diminuir essas datas em até 300 anos (identificando o Faraó Ramsés II com o Sisaque do relato bíblico, e assim por diante), mas a evidência mais ampla que nos vem do Egito e da Mesopotâmia confirma a datação tradicional.
Durante a maior parte da história egípcia, a verdadeira capital ficava na junção entre o vale e o delta, geralmente em Mênfis. No Reino Novo, a cidade de Tebas, uns 500 km mais para o Sul, veio a ser a capital meridional. Ela seria por muito tempo um importante centro religioso, como a cidade do deus Amun. No período final, Mênfis teve que dividir a condição de capital com várias cidades localizadas no delta. Durante toda essa história, o pivô da sociedade era o Faraó, na condição de intermediário entre os deuses e os homens. Os deuses eram, muitas vezes, a corporificação de forças da natureza ou de suas manifestações (o sol, a lua), quando não de certos conceitos (como uma ordem justa, etc.). Nos grandes templos era realizado o culto oficial (o ritual diário das oferendas), ao qual tinham acesso unica,ente o Faraó, o sacerdote e alto dignitário. Somente por ocasião das espetacularidades procissões festivas é que o povo em geral podia honrar os grandes deuses, cuja bênção sobre o Egito se implorava através dos ritos nos templos. As pessoas simples adoravam deuses domésticos, em santuários menores, e em "oratórios" colocados na entrada dos grandes templos. Um dos aspectos mais salientes da religião era a magia. Vista de forma positiva, ela era, nas palavras do mestre do rei Merikare, "um braço que se podia usar para manter à distância os golpes da vida". A magia "negra", por outro lado, era um crime passível de punição.
As atribuições seculares do Faraó eram, na prática, compartilhadas e executadas por altos oficiais de estado: governadores para o sul e o norte, tesoureiros, superintendentes de silos, e inclusive chefes de cobradores de impostos! Esses departamentos eram apoiados por uma burocracia de escribas, que atuava na capital e nas províncias. As grandes ordens sacerdotais tinham as suas propriedades e sistemas administrativos. A partir do Reino Novo, o Faraó também mantinha e chefiava um exército permanente de carros de guerra e divisões de infantaria. A educação se baseava no treinamento de escribas na administração civil e nas escolas anexas aos templos. O Egito teve uma rica produção literária de histórias, livros de sabedoria (semelhantes ao livro de Provérbios), poesia lírica e religiosa, sendo que algumas dessas obras se tornaram clássicas e obrigatórias para alunos. O trabalho dos camponeses era a base da pirâmide social. Os magníficos monumentos - desde as gigantescas pirâmides e os templos até os delicados afrescos e minúsculos anéis sinetes - foram produzidos por um grande número de artistas e artesãos que estavam a serviço do Faraó, dos templos , e das pessoas importantes de cada um daqueles períodos.
O olho sagrado do deus egípcio Hórus era pintado sobre barcos para afastar o mal. |
O território do Egito
O verdadeiro Egito não é aquele quadrado vazio que aparece nos mapas modernos. É, isto sim, o vale estreito que se estende ao longo de mais de 900 km, iniciando em Assuã e terminando na região do delta, onde o rio Nilo deságua no mar Mediterrâneo. No mapa, o delta e o vale formam uma figura semelhante à flor de lótus na extremidade de um caule curvado, sendo que o pequeno "broto" é a província do lago de Faium.
O que mantém o Egito vivo é a enchente anual do Nilo. Antes da construção das barragens em tempos modernos, um "bom Nilo" significava prosperidade, pois trazia água em abundância para as plantações e depositava uma nova camada de solo aluvial. Um rio Nilo baixo, por sua vez, representava carestia e fome ao passo que o excesso de água deixava um rastro de destruição generalizada. Onde as águas do Nilo alcançam, existe viçosa e exuberante vegetação; onde elas não chegam, o que se vê é um deserto, seco, sem vida, de coloração amarelada ou marrom.
Premida pelo deserto, a população do Egito se concentrava na estreita faixa de terra cultivável ao longo do vale e nas amplas planícies da região do delta. Os egípcios ficavam afastados, porém não isolados, das populações vizinhas. Internamente, a principal via de comunicação era o Nilo. Para fora do país, havia uma rota que, passando pelo norte da península do Sinai, levava à Palestina, e outra que, passando pelos vales desertos da região oriental, levavam ao mar Vermelho. O rio Nilo propiciava uma economia agrícola, e das regiões desertas eram trazidas pedras e outros metais.
No caso de jóias do Egito antigo, uma das peças preferidas eram os colares, como este de faiança azul. (foto)
O Egito e a Bíblia
De Abraão a José
O Egito aparece pela primeira vez na Bíblia como o lugar onde os patriarcas se refugiaram durante períodos de fome (Gn 12.10-20; Gn 42--47). Graças ao Nilo, o Egito não dependia das chuvas mediterrâneas que eram de vital importância na Síria e na Palestina. E não foram somente os patriarcas hebreus que se refugiaram no Egito durante períodos de carestia. Durante o Reino Antigo, algumas cenas em esculturas retratam estrangeiros esfomeados, e, uns mil anos depois (cerca de 1210 a.C.), tribos edomitas receberam permissão para se dirigir aos lagos de Pitom, "para se manterem vivos, e manterem com vida os seus rebanhos, graças à grande provisão do Faraó". O Egito mantinha guardas e oficiais de fronteira ao longo da divisa oriental, e às vezes visitantes eram escoltados para dentro (como Sinuhe, na História de Sinuhe) ou, então, para fora (como aconteceu com Abraão, em Gn 12.20).
Os Faraós do templo de Abraão e de José integravam, ao que tudo indica, a 12ª e a 13ª (ou 15ª) dinastias respectivamente (Reino Médio em diante), período em que muitos estrangeiros encontraram trabalho no Egito, e isto em vários níveis, desde escravos até altos oficiais (como José que estava a serviço de Potifar, Gn 39.1-4). E, à semelhança do que foi feito com José, muitos de seus contemporâneos que não eram egípcios receberam um segundo nome egípcio. Em toda a parte e em todas as classes sociais, acreditava-se que os sonhos eram significativos, a tal ponto de escribas elaborarem manuais para ajudar a interpretação deles.
O tema das sete vacas não aparece apenas no sonho do Faraó (Gn 41.18-21), mas também na Fórmula mágica 148 do Livro dos Mortos, que fala sobre a alimentação no além.
No plano econômico, as autoridades egípcias mantinham um detalhado registro das propriedades rurais e, em véspera de colheita, mediam ou avaliavam as plantações para fins de taxação. Num sistema desses não era difícil pôr em prática as medidas propostas por José (Gn 41.34-35,48-49; 47.23-26). Além disso, a região do delta era propícia para a criação de gado (Gn 46.34), algo que é evidenciado por uma inscrição datada de cerca de 1600 a.C.
As roupas de linho fino que José vestia na sua condição de alto oficial (Gn 41.42) são conhecidas de inúmeras pinturas egípcias. Já o processo de mumificação e os caixões do Egito (Gn 50.2-3,26), bem como os sepulcros (Êx 14.11), eram e continuam proverbiais até hoje.
Moisés e o êxodo
O ÊXODO DO EGITO⇑
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Quatro séculos mais tarde, muitos hebreus eram escravos nas olarias egípcias do reino Novo, trabalhando para grandes projetos de construção daquele tempo. O ponto alto desse trabalho foi a construção das cidades de Pitom e Ramessés (Êx 1.11), sendo esta última a residência oficial e sede governamental de Ramsés II, na parte oriental do delta. Papiros daquele tempo falam sobre os Apiru (povos que incluíam os hebreus), "que arrastam pedras para a construção do grande pórtico de pilonos de ... (um templo de ) Ramsés II"; sobre homens "que fabricam cada dia sua quota de tijolos"; sobre funcionários que não têm nem homens nem palha para fazer tijolos" (veja Êx 5.7). As condições descritas em Êx 5 são confirmadas por documentos egípcios daquela época. Na parte ocidental de Tebas, na aldeia em que moravam os trabalhadores nas tumbas reais, foram encontrados "relatórios de trabalho" gravados sobre cacos de cerâmica, que eram os "blocos de notas" daquele tempo. Ali aparece um registro de dias trabalhados e dias de "folga", e, por vezes, são dadas razões específicas para a ausência de alguns: "a mulher dele está doente", ou "ajudando o chefe a fazer cerveja", ou (que pena!) "picado por um escorpião". Mais interessantes são os registros sobre um homem "fazendo sacrifícios ao seu deus", ou sobre todo grupo tendo vários dias de folga para participar de uma festa religiosa local. (Compare com Êx 5.1-5, onde Moisés pede uma folga para os hebreus, mas Faraó afirma desconhecer o Deus de Moisés e não está disposto a fazer mais um feriado.)
As múmias do Egito antigo
são mundialmente famosas.
Esta pintura mostra
o processo da mumificação.
O corpo de José foi
preservado desta forma.
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As imponentes colunas do
Templo de Amun, em Karnak,
ilustram o poder dos Faraós egípcios.
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O fato de uma princesa de um harém que ficava na região oriental do delta acolher uma criança estrangeira, como em Êx 2, não é nada surpreendente na sociedade egípcia cosmopolita do Reino Novo, Sabemos que crianças oriundas de Canaã eram criadas em haréns de outras partes do mundo. Havia estrangeiros em todos os segmentos da sociedade, desde o mais insignificante escravo até o copeiro à direita do Faraó. Um Moisés não era nenhuma exceção naquele contexto. Os mágicos e sábios (Êx 7.11; 8.7,18; 9.11) eram sacerdotes e escribas eruditos. Os próprios egípcios contavam histórias divertidas sobre as façanhas desses homens.
Quando os israelitas deixaram o Egito, o Faraó, provavelmente Ramsés II, mandou seus carros de guerra atrás deles. Seiscentos carros (Êx 14.7) era uma força considerável, mas perfeitamente verossímil, uma vez que se têm notícias de destacamentos bem maiores naquele tempo.
No período de peregrinação pelo deserto, quando da construção do tabernáculo (que era, em essência, uma estrutura pré-fabricada), foram utilizadas técnicas conhecidas desde longa data no Egito para a construção de estruturas que precisassem ser montadas e desmontadas rapidamente, tanto para uso profano quanto para fins religiosos. Que Israel já havia saído do Egito e estava instalado na região ocidental da Palestina ao final do século 13 a.C. é um dado confirmado pela única referência egípcia a Israel (num contexto em que se fala também sobre Gezer e Asquelom), o cântico de vitória de Merneptah (cerca de 1210 a.C.), sucessor de Ramsés II.
Períodos posteriores
O Egito reaparece na história bíblica do tempo de Davi e Salomão. Salomão casou com a filha de um Faraó que conquistou Gezer e fez dela o dote da princesa (1Rs 9.16). Tudo indica que esse Faraó era Siamun (cerca de 970 a.C.), que, a julgar pelo fragmento de um baixo-relevo encontrado em Tânis (a Zoã da Bíblia), capital dessa dinastia, fez incursões na região dos filisteus e no sudoeste da Palestina.
A estrutura literária do livro de Provérbios - em grande parte um "livro sapiencial" de Salomão - revela afinidades com outras obras do gênero escritas na região do Oriente Próximo, várias delas no Egito. Entretanto, a reiterada afirmação de que Provérbios deriva em parte diretamente de uma obra egípcia escrita por Amenemope carece de fundamentação mais sólida.
Em pouco tempo, a dinastia de Siamun deu lugar a um novo rei e uma nova dinastia: Sheshonq I, fundador da 22ª dinastia, o Sisaque da Bíblia (1Rs 11.40; 14.25). Este considerava o Israel do tempo de Salomão um rival na política e no comércio. E quando Roboão sucedeu a Salomão, o Faraó valeu-se de Jeroboão para dividir aquele reino em duas facções inimigas, e, por um breve tempo, sujeitou a monarquia dividida dos hebreus a seus próprios interesses materiais. Essa campanha na Palestina foi registrada numa grande cena de triunfo que se encontra no templo de Amun, em Karnak, e também em inscrições encontradas em Karnak e em Megido (na própria Palestina).
Depois disso, o poderio egípcio entrou em rápido declínio. Os profetas de Israel censuraram seus reis por esperarem ajuda do Egito (veja Is 30--31; Jr 46). O Egito não era adversário à altura para assírios e babilônios, e, com o surgimento do Império persa, se tornou realmente um "reino humilde" (Ez 29.15), perdendo sua independência durante os séculos seguintes.
Um dos maiores tesouros do Egito: o rei Tutancâmon e sua esposa, retratados em faiança dourada, prateada e azul, na parte posterior do trono do rei.(foto)
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Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11