Monte Sinai (1908) |
Os acontecimentos registrados e explicados na Bíblia podem ser comparados com outros acontecimentos que são conhecidos de outras fontes históricas. A própria Bíblia é feita de documentos tão antigos e tão sujeitos à análise histórica quanto esses outros textos daquele tempo.
A precisão do relato bíblico pode, também, ser conferida à luz de outras fontes históricas conhecidas. No entanto, isto nem sempre é tão simples quanto poderia parecer. Muitas vezes os documentos são fragmentários. E, em muitos casos, a evidência arqueológica se presta a mais de uma interpretação. Temos em mãos só um pequeno número de escritos antigos que descrevem os mesmos acontecimentos que aparecem na Bíblia. E, quando temos dois relatos, ainda é preciso levar em conta que muito raramente dois observadores descreverão o mesmo acontecimento sob um mesmo ponto de vista.
Os hebreus eram um povo relativamente insignificante. A história deles não causou maior impacto sobre as grandes potências daquela época, cujos registros históricos chegaram até nós. São raríssimos os personagens bíblicos que aparecem em outros escritos, ficando as exceções por conta de alguns dos últimos reis de Israel e Judá. Não obstante, sempre que é possível fazer uma comparação, a precisão do relato bíblico é impressionante. Embora raramente encontremos relatos paralelos sobre o mesmo acontecimento, muitas vezes temos exemplos de costumes e fenômenos bastante semelhantes aos que são descritos no AT, mesmo que não exista conexão direta entre eles. É claro que uma semelhança superficial pode ser aparente, o que requer cuidado da parte de quem quer estabelecer o paralelo. Mesmo que não nos dê evidência direta ou circunstancial da fidedignidade histórica da Bíblia, o conhecimento a respeito do Antigo Oriente Próximo ajuda a entender a Bíblia, pois o estudo dos costumes, da cultura, da literatura e da história dos vizinhos de Israel nos dá uma ideia do que podemos esperar no caso dos próprios israelitas.
Precisamos considerar três tipos de evidência que podem ajudar a entender a Bíblia: a evidência direta; a evidência circunstancial; e a evidência da analogia.
Evidência direta
Como vimos, referências diretas a Israel são raras e quase que restritas a nomes de reis.
Entre relatos que temos se encontra um sobre a invasão de Sisaque, que foi rei do Egito de 945 a 924 a.C. (1Rs 14.25-26). Uma inscrição em Tebas, que se encontra em péssimo estado de conservação, lista uma série de cidades conquistadas na Palestina, o que é uma clara evidência de que houve a tal invasão.
Israel entrou em contato com os assírios, pela primeira vez, por volta de 853 a.C., quando forças de "Acabe, o israelita", em aliança com Damasco e outras cidades, enfrentaram as tropas de Salmanaser III (858-824 a.C.). E, alguns anos depois, "Jeú, filho de Onti", pagou tributo ao mesmo rei assírio.
Depois de algumas décadas de enfraquecimento, durante as quais Israel chegou a prosperar sob Jeroboão II e Uzias fortaleceu o reino de Judá, Tiglate-Pileser III (745-727 a.C.) restabeleceu o controle assírio na Síria e na Palestina. O rei assírio registra o tributo que lhe foi pago por Menaém, de Samaria, e afirma ter sido responsável pela substituição de Peca por Oséias (2Rs 15.19-20,30). Em 2Rs 15.19 (veja também 1Cr 5.26), Tiglate-Pileser é chamado de Pul. Este nome era conhecido também dos cronistas babilônios do século 6 a.C., época em que, se acredita, os livros de 1 e 2Reis receberam sua redação final.
Depois disso, o domínio assírio na Samaria fez de Judá um estado vassalo. No entanto, os reis de Judá preferiram lutar por independência, buscando, para tanto, a ajuda do Egito. Assim, Ezequias se rebelou, e Senaqueribe invadiu Judá e sitiou Jerusalém. O rei assírio fala sobre isso em várias inscrições. Relata que Ezequias enviou tributo a Nínive (a quantia parece não ser exatamente a mesma que aparece em 2Rs 18.14-16), mas em momento algum afirma ter tomado Jerusalém. Também não menciona - fato compreensível - o que aconteceu com o seu exército! A Crônica Babilônica registra a primeira tomada de Jerusalém por Nabucodonosor (2Rs 24.8-17), datando-a precisamente de 15 ou 16 de março de 597 a.C.
Evidência circunstancial
A maioria das descobertas que aparecem em livros de arqueologia bíblica se inscreve no item "evidência circunstancial". Trata-se de questões que não têm relação direta com acontecimentos bíblicos, mas nos fornecem exemplos de práticas ou registram incidentes que, aparentemente, são comparáveis com textos bíblicos.
Assim, aprendemos que o casamento de Abraão com a escrava Agar - motivado pela esterilidade de Sara - e a subsequente recusa do patriarca em mandá-la embora (só mudou de ideia por orientação divina) concordam com os ditames da Lei de Hamurabi, da Babilônia, que vigoravam no tempo de Abraão.
Os nomes dos patriarcas de Israel também concordam com os nomes geralmente usados na primeira metade do segundo milênio antes de Cristo, como revelaram milhares de documentos daquele tempo que chegaram até nós.
A glória de Salomão é confirmada por fontes egípcias. Segundo 1Rs 9.16, ele casou com a filha do Faraó. Isso teria sido impossível dois ou três séculos antes, durante o apogeu egípcio. Naquele tempo, as princesas do Egito não deixavam a corte, e os pedidos de reis estrangeiros que quisessem casar com uma princesa egípcia eram indeferidos. No entanto, no século 10 a>c., quando o Egito era governado pela enfraquecida 21ª dinastia (e pela que viria depois desta), essa regra foi quebrada. E foi assim que Salomão casou com a filha do Faraó!
Para revestir o interior do Templo (1Rs 6.21-22), Salomão fez uso de grande quantidade de ouro. Isto condiz com a esplêndida decoração dos interiores de templos egípcios, babilônios e assírios.
Um pouco antes da época de Salomão, Gideão pediu a um moço, aparentemente alguém que estava ali à disposição, que lhe desse por escrito os nomes dos líderes de Sucote (Jz 8.14). Hoje, sabe-se que nomes podiam ser facilmente escritos e lidos naquela época. Nas imediações de Belém e em outros lugares foram encontradas pontas de flechas feitas de cobre e que traziam o nome dos seus donos. Esses artefatos são dos séculos 12 e 11 a.C. e mostram que escrever e ler eram fenômenos comuns naquele tempo.
A evidência da analogia
Afora o AT, não temos praticamente nenhum relato escrito sobre a vida, o pensamento e a história dos antigos hebreus. Isto significa que não temos acesso a muitos aspectos da vida deles. O processo natural de decomposição dos materiais levou à destruição de todos os documentos em papiro ou pergaminho que porventura tenham sido soterrados em cidades e lugares da Palestina. O mesmo se aplica a móveis e peças de vestuário.
Sempre que itens como esses foram preservados em culturas vizinhas, pode-se, por vezes, afirmar que algo semelhante era conhecido também no Israel antigo. Cada caso precisa ser examinado com cuidado, para que se tenha certeza de que as circunstâncias são de fato paralelas, mas alguns deles são suficientemente claros e nos ajudam a entender o AT. Nenhuma literatura das cidades israelitas chegou até nós, mas não se pode duvidar de sua existência. O próprio AT dá testemunho disso, por mais que os eruditos ainda discutam a antiguidade de sua forma escrita.
No Egito e na Babilônia, os sistemas de escrita eram complicados, o que resultava num monopólio dos escribas. Em Israel (e estados vizinhos), o descomplicado alfabeto de 22 letras podia ser facilmente aprendido por qualquer pessoa interessada. Isto fez com que a escrita fosse mais comum em Israel, mesmo que os escribas profissionais ainda tivessem um importante papel a desempenhar. A evidência que nos vem de vários documentos escritos menos importantes mostra que isso era de fato assim no Israel antigo. Se as pessoas se utilizavam da escrita na vida diária, é fácil concluir que poderia ser usada também para produzir obras de literatura.
A palavra escrita era tratada com respeito. Livros antigos de grande valor eram copiados com muito cuidado. Podiam ser revisados ou editados, mas raramente se consegue detectar como isso era feito, a menos que se tenha acesso a cópias antigas para fazer a comparação
Os egípcios, assírios, babilônios, hititas e cananeus - todos tinham ritos religiosos, sacrifícios e ordens sacerdotais bem estruturados. Seus templos eram bem construídos e luxuosamente decorados, em especial por reis bem sucedidos. Tivessem os israelitas sido diferentes neste particular, teriam sido os únicos excêntricos naquele contexto. Mas este não foi o caso. As analogias mostram que o tabernáculo, o templo de Salomão e a legislação levítica eram o equivalente israelita ao que se podia encontrar entre os povos vizinhos.
Além disso, a exemplo do que se passava nas nações vizinhas, a maioria da população tinha que trabalhar duro e sofria para satisfazer as exigências do rei, que vivia no luxo e na fartura.
Seria de se esperar que em Israel, que era uma nação em meio a outras nações, houvesse formas de pensamento e de expressão semelhantes às das nações vizinhas. Quando, no exame da literatura babilônica ou egípcia, encontramos detalhes que soam estranhos aos nossos ouvidos modernos, nos esforçamos ao máximo para entendê-los. Procuramos explicar inconsistências, paradoxos e aparentes contradições, sem colocar em dúvida a fidedignidade dos textos que são nossa única fonte de informações (a menos que tenhamos razões objetivas bem fundamentadas para fazê-lo).
É de se esperar que a literatura de Israel tenha características semelhantes àquelas, e também estas deveriam ser tratadas com respeito. Algumas delas são claras, como, por exemplo, a narração dos acontecimentos fora de ordem cronológica ou a inserção de dados que não têm uma conexão óbvia com o contexto.
Semelhanças e diferenças
Esses exemplos já bastam para mostrar o valor da coleta, do estudo e da aplicação de tudo que o antigo Oriente Próximo nos fornece em termos de pano de fundo da Bíblia. Existe uma impressionante convergência entre essa evidência direta e indireta e o AT, a ponto de se poder classificar como suspeita qualquer tentativa de questionar o quadro que o AT pinta da cultura e da história de Israel
Não se conseguiu mostrar que qualquer dessas descobertas contradiga os relatos da Bíblia hebraica. Pode haver discrepâncias, incertezas, questões por responder. Isto é inevitável diante do caráter incompleto da evidência disponível. Novas descobertas solucionam problemas antigos, revelando, muitas vezes, as premissas falsas em que se baseiam algumas teorias modernas. Ao mesmo tempo, podem levantar novas questões e servem de estímulo a um estudo mais aprofundado, à busca de novos enfoques e uma melhor compreensão.
Se a maior contribuição da arqueologia bíblica tem sido na área das semelhanças entre Israel e as nações vizinhas, isto não significa que se podem ignorar as diferenças. O AT proclama que essas diferenças são intransponíveis. Embora tivesse muito em comum com os povos vizinhos em termos de língua e cultura, Israel era bem diferente em termos de fé. É difícil de encontrar evidência material da fé monoteísta de Israel, do culto sem o emprego de imagens, da centralização do Templo. Os vizinhos dos israelitas, sem se darem conta da singularidade do Deus de Israel, pensavam que não passava de um deus nacional ou local como os seus deuses (Quemos, no caso dos moabitas; Milcom, no caso dos amonitas). Para complicar a situação, os israelitas nunca foram totalmente fiéis a Deus. Assim, artefatos religiosos pagãos são encontrados em ruínas das cidades israelitas.
As diferenças aparecem de forma mais nítida quando se compara o ensino bíblico com outros textos daquela época. Alguns aspectos não têm nada que lhes seja semelhante no contexto ao redor de Israel, como, por exemplo, as exigências absolutas dos Dez Mandamentos, a dedicação exclusiva do povo ao Deus que os havia escolhido, a igualdade dos indivíduos em equilíbrio com a responsabilidade corporativa, e o altruísmo dos profetas.
Embora alguns pensem que é impossível crer neles, o fato é que possuímos manuscritos que lhes garantem uma antiguidade de mais de 2 mil anos.
Embora alguns os considerem inaceitáveis, o fato é que, apesar da sua antiguidade, eles ainda fazem sentido em nosso mundo de hoje.
Se os aspectos históricos e culturais estão em harmonia com nosso conhecimento dos tempos antigos, como de fato é o caso, as diferenças de natureza religiosa e ética requerem explicação. O AT tem uma explicação: Deus falou.
Amém!
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Filipenses 1:9-11