Este é o Deserto de Sur
por onde os israelitas andaram
após a travessia do mar Vermelho
rumo ao Monte Sinai. (Êx 15.22)
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Números [Bamidbar - במדבר - "No deserto"]
O livro de Números conta a história da jornada pelo deserto, iniciada no monte Sinai. Ele serve como diário de viagem dos israelitas após o êxodo. Depois de entregar a lei, o Senhor instruiu Moisés a contar o exército de Israel. Todos os homens com ao menos 20 anos de idade eram qualificados para servir ao Senhor dos Exércitos.
Deus, então, cercou Sua habitação, o Tabernáculo, com um círculo interno de sacerdotes e assistentes para protegê-lo de impurezas nos rituais. O restante dos israelitas circundou os levitas, acampando sob a bandeira de suas respectivas tribos. O censo tinha o propósito de reorganizar Israel como um acampamento militar em preparação para a conquista da Terra Prometida. A relação das tribos começou com Rúben, primogênito de Jacó, e prosseguiu por ordem de nascimento com base na posição social da mãe. Os filhos de Leia foram primeiro, depois a descendência de Raquel e, por último, os filhos das concubinas. A tribo sacerdotal de Levi estava isenta do serviço militar e, de acordo com a tradição judaica, estava isenta também do juízo que caiu sobre aquela geração (Nm 26.64).
A história da jornada pelo deserto começou com uma celebração e uma preparação no monte Sinai. No entanto, ela logo se transformou em decepção e fracasso quando o povo voltou atrás em Cades-Barneia e vagou no deserto por quase 40 anos, até que a geração rebelde de adultos perecesse no deserto. No final da história, a nova geração, nascida no deserto, prosseguiu em direção a Moabe, preparando-se para finalmente entrar na Terra Prometida.
O título hebraico do livro (Bamidbar - במדבר - "No deserto".) é proveniente de palavra presentes no versículo inicial, que significam "no deserto" (Nm 1.1). A LXX intitula o livro de arithmoi ("números") por causa dos dois censos registrado nos capítulos 1 e 26 e de outros dados numéricos. O título em língua inglesa é derivado da tradução inglesa da LXX.
Números relata a história do sucesso inicial e do fracasso final da geração do êxodo. Os homens israelitas que vivenciaram a libertação milagrosa do êxodo no Egito sucumbiram à dúvida, ao medo e à incredulidade. Após deixar a escravidão no Egito, eles voltaram atrás em incredulidade em Cades-Barneia e vaguearam pelo deserto do Sinai. Em contrapartida, a geração de israelitas nascida no deserto assumiu o compromisso de confiar no Senhor e prosseguir pela fé.
A estrutura do livro vem dos capítulos 1 e 26, que contêm os diferentes censos, da primeira e da segunda geração respectivamente. Os capítulos 13 e 14 marcam uma transição de foco, da primeira geração para a segunda. A primeira geração, incrédula, não seguiu a Deus no deserto (Nm 1.1--25.18), mas a segunda geração, fiel, seguiu a Deus voluntariamente até a Terra Prometida (Nm 26.1--36.13). E o gênero principal é a narrativa , no entanto Dyer e Merril observaram os minutos subgêneros presentes no livro, incluindo recenseamentos, procedimentos de viagem, normas para sacerdotes e levitas, instruções para sacrifícios e rituais, direitos de herança, oráculos proféticos e poesia.
Preparação da primeira geração no Sinai (Nm 1--10)
Na primeira grande seção do livro, Moisés recorda as muitas bênçãos que Deus concedeu à primeira geração (cap.1--10). Ela tinha tudo o que precisava para ser bem-sucedida na conquista de Canaã, mas não conseguiu por causa de sua própria incredulidade e desobediência. A segunda geração, igualmente abençoada, aprendeu que a única coisa que impedia o sucesso era sua própria incredulidade. Essas bênçãos são divididas entre aquelas pertencentes à organização de Israel (cap. 1--4) e aquelas relacionadas à santificação da nação (cap. 5--10). A seção que lida com a ordenação das tribos começa com um censo (cap. 1) para fins de organização militar e arranjo em torno do Tabernáculo (cap. 2). Os grandes números (603.550 homens) listados no censo fizeram com que muitos questionassem se tais dados deveriam ser considerados literalmente. Diversas propostas ofereceram ajustes a esses números, mas não é lógico supor que tenha havido engano em todas as seis ocorrências (Êx 12.37; 38.26; Nm 1.46; 2.32; 11.21; 26.51). Êxodo registra o rápido crescimento da população de Israel (Êx 1.7-12), e a preservação milagrosa de uma população tão grande encaixa-se com o tema de Êxodo, o qual é glorificar a Deus por causa de Seus milagres (Êx 7.5).
A seção seguinte (cap. 3--4) registra um censo dos levitas para sua organização em diversos grupos. Esses grupos não somente foram organizados em diferentes posições ao redor do Tabernáculo (cap. 3) como também receberam várias responsabilidades ali (cap. 4). Embora todos os sacerdotes fossem levitas, nem todos os levitas eram sacerdotes. O sacerdote tinha de ser levita e também descendente de Arão. E somente os sacerdotes tinham o privilégio de administrar sacrifícios, ao passo que os levitas comuns eram considerados ajudantes dos sacerdotes.
Números descreve não apenas a ordem externa da primeira geração (cap. 1--4), mas também sua ordem interna, por meio da santificação (cap. 5--10). Quatro áreas de bênçãos espirituais são enfatizadas. Primeiro, as pessoas deviam ser santificadas apartando-se dos leprosos, dos que tinham fluxo e dos que tiveram contato com um cadáver (Nm 5.1-4), a fim de que o acampamento não fosse contaminado e de que Deus pudesse habitar no meio dele. Segundo, as pessoas eram santificadas pelo voto do nazireu, que lhes dava a oportunidade de dedicar-se a Deus durante um período (Nm 6.1-21). Mais tarde, Samuel, Sansão e João Batista fizeram o voto de nazireu. As pessoas também podiam ser santificadas pela bênção aarônica, que lhes garantia a graça contínua de Deus (Nm 6.22-27). Terceiro, elas eram santificadas pela adoração (Nm 7.1--9.14), expressa pelas ofertas apresentadas na dedicação do tabernáculo (cap.7), pela disposição das lâmpadas [realizada] por Arão dentro do tabernáculo (Nm 8.1-4), pela dedicação dos levitas (Nm 8.5-26) e pela comemoração da segunda Páscoa (Nm 9.1-14). Em último análise, os israelitas eram santificados pela orientação divina (Nm 9.15--10.36). A nação era guiada pela nuvem que pairava sobre o tabernáculo (Nm 9.15-23) e perlas duas trombetas de prata (Nm 10.1-10). Os toques de trombeta sinalizavam o início de um novo mês, bem como as festas anuais. Hoje, as congregações judaicas entoam Números 10.35 (Levanta-te, SENHOR) enquanto os rolos são levados na procissão da Torá.
Após a saída para o deserto de Parã (Nm 10.11-13), os israelitas passaram a receber direção divina pela coluna de nuvem, de dia, e pela coluna de fogo, à noite (Nm 10.33-36). Em suma, a nação era santificada por meio de separação (cap.5), votos (cap.6), adoração (Nm 7.1--9.14) e direção (Nm 9.15--10.36). Ela tinha tudo o que precisava para conquistar Canaã. Além disso, a jornada do Sinai até Cades-Barneia era de apenas 11 dias (Dt 1.2).
Fracasso da primeira geração (Nm 11--25)
Infelizmente, a incredulidade resultou na desqualificação da primeira geração para receber as bênçãos de Canaã. Os capítulos 11--12 prenunciam o maior fracasso ocorrido em Cades-Barneia (cap. 13--14). A incredulidade e a desobediência aconteceram quando o povo reclamou, em Taberá (Nm 11.1-3), e murmurou quanto à provisão divina de alimentos (Nm 11.4-9). E o "fracasso" de Moisés ocorreu quando ele reclamou sobre o imenso fardo de liderar os israelitas (Nm 11.10-15).
Este é o ponto crítico da jornada no deserto. Aquilo que havia começado tão bem terminou em fracasso total, uma vez que a maioria dos israelitas voltou atrás em incredulidade. Nesse ponto, o destino da primeira geração foi selado. A geração do êxodo não seria a geração da conquista. O que, originalmente, seria uma viagem de 11 dias até Canaã (Dt 1.2) transformou-se em 40 anos de contínua peregrinação no deserto (Nm 15.1--20.13) Os israelitas, por causa da incredulidade, ficaram 38 anos a mais no deserto.
Os acontecimentos em torno da rebelião de Coré, Abirão e Datã foram registrados em seguida (cap. 16). Essa rebelião representou um desafio adicional à autoridade sacerdotal de Moisés e Arão. Esses atos rebeldes tiveram graves repercussões. Primeiro, a etrra abriu-se e engoliu os instigadores, e os demais foram consumidos por fogo. Segundo, houve um grave surto de praga, resultando em 14.700 mortes. Esses relatos evidenciam os desafios da liderança, bem como o alto preço da desobediência. (Recomendo lê todos os capítulos de Números!)
Segunda geração (Nm 26--36)
A segunda metade do livro de Números (cap 26--36) transfere a atenção do leitor para a esperança que a segunda geração nutria de um futuro melhor. O enredo de Números indica claramente, que Deus é capaz de ignorar uma geração, se necessário, e passar para a próxima. Ironicamente, a geração do êxodo falhou em quase todas as vezes, apesar de testemunhar os milagres de Deus. Por outro lado, a geração do deserto, que testemunhou tanto o tumulto e desobediência de seus antepassados, tornou-se a geração que conquistou a Terra Prometida. Isso indica que os milagres, apenas, não mudam pessoas; só Deus pode realmente mudar o coração.
Reorganização de Israel nas planícies de Moabe (Nm 26--30)
As bênçãos da segunda geração (cap. 26--30) incluíam as bênçãos políticas de Israel (cap. 26--27), a saber: outro censo para fins de conquista militar e direitos de herança (cap. 26), o decreto divino que dava às filhas sem irmãos sobreviventes o direito de herdar a terra dos pais (Nm 27.1-11), a escolha de Josué como novo líder (Nm 27.12-23) e várias bênçãos caso a nação mantivesse a aliança (Nm 28--30).
Preparação para a conquista da terra (Nm 31--36)
Um segundo conjunto de bênçãos diz respeito à preparação para a conquista de Canaã (cap. 31--36). Essa seção inclui exortações para a fidelidade à aliança e começa com a derrota dos midianitas (cap. 31). Ela também menciona o estabelecimento de Gade, Rúben e metade da tribo de Manassés na Transjordânia (cap. 32). Felizmente, essas tribos orientais comprometeram-se a ajudar as outras tribos na conquista da terra de Canaã. A narração das jornadas de israel, desde o Egito até Moabe (Nm 33.1-49), incentivaria a segunda geração, uma vez que esse panorama histórico revela a fidelidade constante de Deus a despeito dos repetidos fracassos da primeira geração.
Uma importante exortação à fidelidade na aliança é vista na ordem para matar os cananeus (Nm 33.50-56). Aqui, Moisés advertiu que, se a nação não fizesse isso, eles a importunariam constantemente. O padrão do restante do Antigo Testamento confirma a validade disso. Outra bênção divina concedida à segunda geração envolve a demarcação das fronteiras da terra de Canaã a ser possuída (Nm 34.1-12).
Essa seção também explica a escolha de líderes responsáveis pela repartição da terra (Nm 34.13-39), bem como o estabelecimento das cidades levíticas (Nm 35.1-8) e das cidades de refúgio (Nm 35.9-34) em Canaã. As cidades levíticas permitiam que os levitas vivessem em meio ao povo ao longo de toda a terra. As cidades de refúgio possibilitavam que a justiça fosse exigida por assassinatos e também impediam que sangue inocente fosse derramado em linchamentos, mantendo, assim, a terra livre de poluição espiritual (Nm 35.33,34). Por fim, cada tribo foi abençoada com a capacidade de preservar a terra, como no caso das filhas de Zelofeade (cap. 36). Essas mulheres, que não tinham irmãos vivos, herdaram as propriedades dos pais, mas foram obrigadas a casar-se com homens, à sua escolha, da própria tribo. Assim, Moisés lembrou a segunda geração das bençãos que possuía e da oportunidade que tinha de confiar em Deus. Fidelidade à aliança seria a chave para o sucesso na conquista da terra de Canaã.
Concluindo, Moisés enfatizou à segunda geração a necessidade de fé e obediência, lembrando-a de que a primeira geração era abençoada (cap. 1--10), mas foram deserdada unicamente por causa da desobediência (cap. 11--25). A segunda geração foi desafiada a permanecer fiel ao Senhor para que pudesse receber sua herança na Terra Prometida (cap. 26--36). Ao honrar a aliança mosaica, ela veria as promessas da aliança abraâmica sendo cumpridas. Desse modo, a nova geração, nascida no deserto, realizaria aquilo que a geração do êxodo não havia conseguido. O apóstolo Paulo também empregou essas histórias como "exemplos" para seus leitores (1Co 10.1-13).
Destaque do Judaísmo
Números no Livro dos Números: 4 acampamentos, 12 tribos, 273 primogênitos excedentes, 22.300 levitas, 603.550 israelitas - cada um dos quais conta.
Destaque do hebraico
Número. (paqad). A raiz da palavra hebraica paqad está presente em todas as línguas semíticas e é derivada do conceito de "prestar atenção" nos detalhes. Ela é usada para referir-se a "contar" (1Sm 11.8), "registrar" (Êx 38.21), "lembrar" (Jr 15.15), "nomear" (Nm 1.5), "depositar" (Jr 36.20) ou "confiar" (Lv 6.4). Em seu emprego no livro de Números, paqad indica a importância dos censos realizados e a atenção aos detalhes na contagem dos homens do exército israelita. A liderança da nação e as respectivas famílias desses homens dependiam do uso divino destes para derrotar os inimigos de Israel a fim de que a Terra Prometida pudesse ser ocupada.
IMPORTÂNCIA TEOLÓGICA
Números está repleto de temas teológicos muito ricos. Eles incluem a santidade de Deus, a pecaminosidade do homem, a necessidade de obediência à aliança e as consequências da desobediência. A fidelidade de Deus à aliança abraâmica é claramente demonstrada apesar da infidelidade de Israel à aliança mosaica. A paciência e a misericórdia de Deus, Sua presença visível manifesta por intermédio da arca e do tabernáculo e a divina providência são contrastadas com a desobediência e a infidelidade da geração do êxodo. O livro de Números também fornece uma visão prática da corrupção presente na natureza humana e da necessidade de intervenção divina neste mundo caído.
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Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo;
Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11