COSTUMES BÍBLICOS: Governo romano-cultura grega


Governo romano-cultura grega


Em navios de guerra como esse os romanos conquistaram a supremacia no mar.
Governo romano, cultura grega
Nos Evangelhos, em Atos e nas Cartas, encontramos judeus de fala grega e frequentes referências aos "gregos". Às vezes isso simplesmente significa "não-judeus". Mas aqueles que falavam grego e pertenciam a cidades-estado gregas também eram considerados "gregos", isto é, pessoas civilizadas; os demais eram "bárbaros". Perto da região da Galiléia havia dez dessas cidades gregas. Atualmente, na Turquia, é possível visitar magníficas ruínas de cidades semelhantes àquelas.
A chegada de Roma
Nos dois séculos anteriores ao nascimento de Cristo, o Império grego caiu nas mãos dos romanos. Em 133 a.C., o testamento do rei Atalo, de Pérgamo, deu origem à província romana da Ásia, que abrangia a costa oeste da Turquia de hoje. Entre as outras províncias da região estão a Cilícia, formada por volta de 80 a.C. na região sudeste da atual Turquia, e a Galácia, que resultou da aquisição do reino da Galácia, na Anatólia central, em 25 a.C.
A guerra civil entre Otaviano (mais tarde o Imperador Augusto) e Marco Antônio teve seu desfecho na batalha de Actium (31 a.C.). Depois disso, houve a queda de Alexandria, no Egito (30 a.C.), e o suicídio de Antônio e Cleópatra (que governava o reino dos Ptolomeus). Isto fez com que Roma passasse a dominar o Egito e outros territórios dos Ptolomeus na região leste de Mediterrâneo. Em 30 a.C., Otaviano entregou ao rei Herodes várias cidades que anteriormente haviam sido dominadas pelos egípcios.
Mais tarde, Augusto reorganizou a estrutura provincial do Império, fazendo com que as províncias ficassem subordinadas, ou diretamente ao Imperador, ou ao senado de Roma.Vários governadores provinciais romanos, da Judéia e de outros lugares não mencionados no NT. Entre eles, Sérgio Paulo, de Chipre (At 13.7), Gálio, da Acaia (Sul da Grécia; At 18.12). É interessante que, depois do encontro com Sérgio Paulo, em Chipre, Paulo adotou essa forma de seu nome (ele era "Saulo" até então) e foi para Antioquia da Pisídia (At 13), onde o governador tinha propriedades de sua família.
Apesar da imposição do sistema administrativo romano na parte leste do Mediterrâneo, a cultura dominante continuou sendo a grega ("helenista"). E ela se tornaria um elemento fundamental na difusão do evangelho. Estradas romanas e a paz romana permitia que Paulo e seus companheiros viajassem com segurança. Mas foi o grego coiné ou grego comum que tornou possível a comunicação. Cidades de cultura helênica, como, por exemplo, Éfeso, se tornaram centros de propagação do evangelho entre os não-judeus.
Mesmo sendo parte do Império romano, as comunidades estabelecidas pelos gregos continuaram a fazer inscrições públicas em grego. As cidades adotavam frequentemente instituições gregas para a sua administração, de sorte que tinham formas padronizadas de magistrados, concílios e assembléias. Além disso, determinada cidade enfatizava, muitas vezes, o culto a uma divindade específica, como era o caso, por exemplo, do culto a Ártemis ou Diana, em Éfeso.
Cidades gregas e colônias romanas
Dentro dessa estrutura de cidades gregas com instituições gregas, e usando o grego como língua principal, Roma começou a estabelecer uma série de colônias para assentar veteranos de campanhas militares. Corinto era uma dessas colônias na parte oriental do Império. Foi fundada por Júlio César pouco antes do seu assassinato. O relato da chegada de Paulo a Corinto está em At 18. Mais tarde, Paulo escreveria duas cartas aos cristãos dali.
Na província da Galácia,  fundada em 25 a.C., colonos da 5ª e 7ª legiões foram assentados em terras que foram compradas do templo de Mên Askaenos, perto de Antioquia da Pisídia, cidade visitada na primeira viagem missionária de Paulo (At 13).
Todas essas cidades tinham estrutura administrativa romana e usavam o latim, mas apenas como língua pública, pois o grego continuava sendo a língua do povo. Naturalmente elas se tornaram foco da cultura romana na província. Quanto a Corinto, é evidente que membros da elite de outras cidades e regiões da província eram atraídos à colonia (no caso, a cidade de Corinto) para usufruir dos benefícios do processo de romanização.
Ter cidadania romana era algo raro entre os gregos da parte oriental do Mediterrâneo, pelo menos no século 1 d.C., embora fosse moda adotar nomes latinos (como Rufo, Mc 15.21; Rm 16.13). Isso explica a surpresa do centurião, em Jerusalém, quando Paulo declarou ser cidadão romano (At 22.28).
A cidadania dava a Paulo o direito de apelar ao Imperador ("César"). Foi o que ele fez, quando sua prisão na Judéia estava se tornando uma situação permanente (At 25.11).
Conflitos com as autoridades
As colônias romanas tinham, não apenas uma estrutura administrativa romana, mas também uma legislação romana. Portanto, quando Paulo foi preso em Filipos - colônia romana - os magistrados da cidade (duoviri, em latim) agiram ilegalmente (At 16.20). Ao invés de receber tratamento especial de cidadão, Paulo foi preso e espancado.
Em Corinto, a causa contra Paulo foi (corretamente) levada ao governador (At 18.12-17). Em Corinto, também, para o espanto de Paulo, cristãos submetiam suas queixas ao arbítrio de juízes que, neste caso, eram pagãos (1Co 6.1-11).
O NT revela uma abordagem legal diferente nas cidades gregas que, embora estivessem sob a jurisdição do governador provincial romano, ainda retinham parte de sua estrutura própria, do período anterior ao domínio romano.
A tensão entre duas autoridades dentro da mesma província é muito bem exemplificada no relato de At 19, quando do tumulto em Éfeso, que resultou da pregação de Paulo. Os desordeiros se reuniram, gritando, no teatro, e foi tarefa do secretário da cidade, o grammateus, acalmá-los e lembrar a todos os presentes que eventuais queixas seriam examinadas pelo governador provincial.
Conflitos com autoridades civis também são descritos em outras passagens, especialmente de Atos.
Por exemplo, em Tessalônia, os magistrados civis, corretamente chamados por Lucas de "politarcas" (At 17.8), estavam prestes a ouvir uma possível acusação de traição contra Paulo e Silas: "Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei" (At 17.7). É interessante notar que nenhuma acusação formal foi feita e Paulo e Silas foram expulsos da cidade antes que o governador da Macedônia pudesse ser chamado para intervir.
Em Atenas, Paulo foi levado ao respeitável tribunal civil do Areópago (At 17). Novamente, a solução mais rápida, para Paulo e para as autoridades civis, foi a saída de Paulo da cidade.
Os jogos
Uma das características das cidades do Oriente grego era a realização de jogos inspirados nas grandes festas pan-helênicas de Olímpia e Delfos.
Acreditava-se que eventos como esses ajudavam na formação de bons cidadãos. As competições eram principalmente de natureza atlética, incluindo, por exemplo, corridas ou lutas, bem como competições equestres, em alguns lugares. Sob o aspecto cultural, podia  haver competições musicais e de oratória. Jogos desse tipo ocorriam em intervalos fixos, geralmente de quatro em quatro anos, como os jogos Olímpicos.
O rei sírio Antíoco lV tentou introduzir tais jogos em Jerusalém, junto com um ginásio onde os jovens da cidade poderiam ser treinados. Isso levou os judeus a protestar, pois viam na difusão da cultura grega uma ameaça à identidade judaica.
Os jogos sagrados, nos quais o vencedor recebia como prêmio uma coroa, eram os mais renomados. No entanto, em algumas cidades o prêmio era dinheiro. Ao que tudo indica, esses jogos, conhecidos como themides, eram, por vezes, instituídos por um benfeitor abastado que dava dinheiro para pagar os prêmios. Os jogos podiam, então, receber o nome do benfeitor, como, por exemplo, a Balbiléia, uma festa estabelecida em Éfeso por Tibério Cláudio Balbillus.
Ás vezes, os jogos eram estabelecidos em conexão com o culto imperial (veja "O culto ao imperador e o Apocalipse"). Pérgamo, na província da Ásia, tinha uma festa desse tipo, associada ao culto de Roma _ a personificação da cidade de Roma _ e Augusto.
Os imperadores se interessavam pelos jogos, especialmente Nero, que viajou pela Grécia participando dos eventos principais _ alguns dos quais foram adiados para que ele pudesse participar _ e culminando com um discurso no estádio do santuário pan-helênico de Ístmia, onde declarou que a Grécia estava livre.
O grande interesse que as pessoas tinham pelos jogos pode explicar as frequentes alusões de Paulo, em suas cartas a corridas (1Co 9.24,26; Gl 2.2; 5.7; Fp 2.16) e prêmios (1Co 9.24,27; Fp 3.14).
Ritos religiosos
Cada cidade do Império romano tinha uma grande variedade de ritos religiosos. Numa cidade grega, os ritos principais giravam em torno dos deuses olímpicos dos gregos, tais como Zeus, Ares, Ártemis e Afrodite. Nas colônias romanas, era comum o culto a deuses como Júpiter, Marte, Diana e Vênus. Os deuses eram representados como figuras humanas.
Algumas das estátuas mais importantes da antiguidade representavam deuses. Uma das sete maravilhas do Mundo Antigo era a enorme estátua de Zeus, feita de marfim e ouro, que foi colocada no templo desse deus em Olímpia. A importância desse tipo de adoração no contexto das cidades antigas se reflete no relato da chegada de Paulo a Atenas, uma cidade descrita como "cheia de ídolos" (At 17.16).
Embora esses ritos pudessem ter um nome comum, por exemplo, Afrodite ou Ártemis, eles eram tudo menos uniformes e, às vezes, eram completamente diferentes uns dos outros. Por exemplo, na cidade de Pafos, em Chipre, Afrodite era adorada na forma de uma pedra cônica ou baetyl. Em Éfeso, Ártemis, deusa normalmente associada à caça, era representada numa imagem que parecia ter uma multiplicidade de seios. A pregação de Paulo resultou numa dramática redução do lucro dos ourives da cidade, que faziam objetos que podiam ser dedicados à deusa (At 19). Em Atos, o escrivão de Éfeso comenta que a imagem de Ártemis caíra do céu, uma possível alusão à adoração de pedras sagradas (At 19.35).
Um dos ritos unificadores do Império romano oriental foi o culto ao Imperador. No período grego ou helenista, os governantes haviam incentivado seus súditos a adorá-los como deuses, e essa prática foi continuada durante o Império romano.
Em 29 a.C., depois da batalha de Actium e do suicídio de Marco Antônio, Augusto permitiu que as cidades da Ásia e da Bitínia construíssem templos nos quais Júlio César, seu pai adotivo, agora deificado, pudesse ser adorado juntamente com a deusa Roma. Além disso, permitiu que os gregos, embora não os romanos, o adorassem em Pérgamo e na Nicomédia. Em Ancira, na província da Galácia, havia um templo dedicado a Augusto e Roma. Nas paredes dessa construção se encontra, ainda hoje, o texto que fala sobre os feitos de Augusto. Originalmente esse texto havia sido colocado em placas de bronze, na parte externa do mausoléu imperial, em Roma.
Inscrições encontradas na colônia romana de Narbona (Narbonne), no sul da França, datadas de 11 e 12 ou 13 d.C., descrevem como cada setor da sociedade era levado a contribuir para o culto ao Imperador. Por exemplo, três membros da ordem equestre dos romanos e três libertos deviam "sacrificar um animal cada" e fornecer, às próprias custas, incenso e vinho para cada membro da colônia.
Outros ritos ou cultos tinham relação com a cura, através da adoração do deus Asclépio ou Esculápio. Esse culto existia também em Roma. Um dos centros mais importantes ficava em Epidauros, na Grécia. O complexo continuou sendo popular no período romano, atraindo pessoas que  vinham e dormiam dentro do santuário. Um santuário rival em Pérgamo se expandiu no século 2 d.C., graças à ajuda de benfeitores romanos abastados.
A espiritualidade desses ritos  e das religiões de mistério atraía principalmente o povo da Ásia romana (atual Turquia), ao qual Paulo enviou várias de suas cartas. Em Efésios e Colossenses, ele usa a linguagem dessas religiões para mostrar o poder muito maior de Jesus. 
Jerash (na atual Jordânia)
era uma das "Dez Cidades"
(cidades gregas, chamadas de Decápolis)
que ficavam próximas à região onde
Jesus atuou, na Galiléia.
Arqueólogos desenterraram 
uma grande área da cidade,
inclusive o teatro, ruas largas (direita)
 e o espetacular templo de Ártemis com suas colunas (acima).








             
Colunas do templo de Ártemis





Um teatro romano ainda se 
conserva no centro da cidade de Amã,
 na Jordânia.


















O templo de Esculápio em Pérgamo
 inclui dutos de água e um túnel
 que eram parte de um centro médico.
 É possível que fossem usados
 para dar tratamento de
choque aos pacientes.

A antiga cidade de Éfeso, onde o impacto
 da pregação de Paulo causou um tumulto,
 é uma das principais atrações
 turísticas da Turquia atualmente.
Essa é uma de suas ruas principais.

Naquela época anterior ao desenvolvimento da medicina moderna, não é de admirar que as religiões e os rituais de cura tinham tantos adeptos. Neste entalhe em mármore (acima) que remonta ao séc. 5 a.C. aparecem o deus Esculápio e sua filha Higéia (saúde e cura).

                                           








Um exemplo impressionante de uma 
casa de rico construída no estilo helenista 
foi encontrado em 
Araq al Amir, na Jordânia.



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Filipenses 1:9-11

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