GÁLATAS
Uma carta escrita às pressas em que Paulo lida com problemas sérios. A questão básica diz respeito a mestres que insistiam que os cristãos de origem gentílica deviam ser circuncidados e guardar a lei judaica. |
Quem eram os gálatas?
A Galácia era uma enorme província romana que se estendia quase de costa a costa, passando pelas montanhas e planícies da região central da Turquia. Não sabemos o alcance exato da atividade missionária de Paulo nessa província, isto é, que áreas foram evangelizadas por ele. At 13--14 registram a fundação de igrejas nas cidades de Antioquia, Icônio, Listra (cidade de Timóteo) e Derbe, mais ao sul, durante a primeira viagem missionária. E sabemos que Paulo fez mais duas visitas àquela região posteriormente (At 16.6; 18.23). (Os gálatas étnicos eram três tribos celtas que se haviam instalado na parte norte da província.)
Por que Paulo lhes escreveu esta carta?
Paulo escreveu Para abordar alguns problemas sérios nas igrejas. Pouco tempo depois de sua primeira visita, a Galácia recebeu a visita de outros mestres cristãos de origem judaica. Paulo ensinara que, para receber o perdão de Deus e viver a nova vida em Cristo, não se precisava nada além de arrependimento e fé. Esses mestres insistiam que convertidos de origem gentílica também deviam ser circuncidados e obedecer à lei judaica, ou seja, praticamente se tornarem judeus. (O mesmo aconteceu em Antioquia da Síria, At 15.1.) Quando Paulo ouviu isso, ficou muito preocupado (Gl 4.20). Ele viu que isso atingia o cerne da mensagem cristã. Salvação - vida nova - é dom de Deus a todos os que crêem. Esse ensinamento novo "tornava a obediência à lei tão essencial à salvação quanto a fé no Messias crucificado" (R. A. Cole). Tendo começado com base na fé, retornar à lei como base de vida cristã significava destruir tudo que havia sido construído. Os cristãos são pessoas libertas e livres, sujeitas apenas à lei de Cristo (a lei do amor; cap. 6). Essa situação resultou na mais severa de todas as epístolas de Paulo.
*Paulo não estava se referindo à Lei dos DEZ MANDAMENTOS! (Essa lei continua em vigor eternamente) Não se pode mudar a Lei do Eterno. Apenas foi anulado a lei sacrificial. Aquela dos sacrifícios de animais. Tendo em vista o Sacrifício eterno de Cristo o Cordeiro de Deus, ter sido suficiente para sempre. ["Embora a justaposição da lei e do evangelho estivesse presente nos líderes da Igreja, não foi até a época da Reforma que a justaposição da lei e da graça se tornou tão pronunciada. Esta se tornou a ênfase dominante da Reforma. O oposto da graça tornou-se lei ; o oposto da lei tornou-se graça. No entanto, biblicamente o oposto da lei nunca foi graça, mas ilegalidade. Assim como o oposto da graça nunca foi lei, mas desgraça." Dr. Eli Lizorkin-Eyzenberg]
Quando a epístola foi escrita?
A data provavelmente é por volta de 49 d.C. Esse foi o ano em que a "comissão de inquérito" se reuniu em Jerusalém para tratar dessa mesma questão (At 15). Paulo pode estar se referindo a esse concílio (ou às conferências que o precederam) em 2.1-2, embora não tenha deixado isso explícito. Se ele não se refere a isso, a epístola deve ter sido escrita pouco antes desse encontro em Jerusalém. Vários anos depois, em sua carta aos Romanos, Paulo volta a discutir algumas dessas mesmas questões. Na época, a situação era menos dramática, o que lhe permitiu considerar essas questões com mais calma. No entanto, a epístola aos Gálatas se destaca como a grande declaração da liberdade cristã.
Gl 1: Não existe outro evangelho
A urgência de Paulo fica clara desde o início. A maneira abrupta de afirmar a sua autoridade (1) e a ausência de qualquer elogio não são tipicamente paulinas. Ele vai direto ao assunto (6-8): existe apenas um "evangelho de Cristo". Que sejam condenados aqueles que afirmam o contrário! Ele não está dizendo isso para agradar as pessoas (é possível que os judaizantes considerassem o evangelho de Paulo uma opção mais fácil, se comparada com o cumprimento da lei). A única aprovação que lhe interessa é a aprovação de Deus (10).
O que Paulo ensina é simplesmente o que o próprio Cristo revelou (12). Não havia ninguém mais dedicado às tradições da religião judaica do que Paulo, antes de seu encontro com Jesus no caminho para Damasco (13-15; At 9).
Sua breve autobiografia (13-2) destaca o fato de que sua autoridade vem de Deus. Não precisava da "autorização" de ninguém, embora ele conhecesse bem os líderes da igreja de Jerusalém que supostamente aprovavam a mensagem que ele havia recebido de Deus (como mais tarde também apoiariam plenamente um evangelho livre da lei para os gentios: At 15).
Vs. 4-5 Paulo enfatiza o fato de que a iniciativa foi de Deus.
O meu proceder outrora (13) Veja At 8.1; 9.
V. 17 Não é fácil encaixar os acontecimentos que, segundo Paulo, se seguiram à sua conversão no relato (muito resumido) de At 9. "Arábia" pode ser a área ao redor de Damasco, ou, num sentido mais amplo, o reino nabateu governado por Aretas (cuja capital era Petra, na atual Jordânia). Os "três anos" podem ter sido um ano completo e parte de outros dois. Paulo não diz por que foi para a Arábia. Como o seu tema é a autoridade que deus lhe deu para difundir o evangelho, é provável que ele estivesse fazendo exatamente isso. (Essa mesma atividade havia gerado um conflito com o rei Aretas anteriormente, em Damasco: 2Co 11.32.)
Cefas (18, ARA) Pedro (NTLH). Essa parece a visita referida em At 9.26-30.
Síria e Cilícia (21) Antioquia ficava na Síria; Tarso (cidade natal de Paulo; At 9.30), na Cilícia. A Cilícia ficava na extremidade sudeste da costa da atual Turquia.
O assunto principal que Paulo discute na carta aos Gálatas é o ensino errôneo dos "judaizantes", que insistiam que todos os cristãos deviam ser circuncidados e se sujeitar à lei judaica. Paulo (o judeu convertido) entendia que isso era equivalente a trocar a liberdade cristã pela escravidão.
Gl 2: A missão de Paulo é aprovada esta segunda visita de Paulo a Jerusalém pode ser aquela mencionada em At 11.30 (para levar ajuda por causa da fome) ou, então, a que aparece em At 15 (levantando as questões que resultam no Concílio). Ele teve uma reunião particular para discutir o evangelho que ele pregava entre os gentios. Paulo não queria que sua obra fosse invalidada, e temia que seu ministério pudesse ser prejudicado ou até desaprovado pelos líderes de Jerusalém. Mas eles aprovaram plenamente o que Deus fazia de forma tão clara através de Paulo (7-9).
Mas em Antioquia, Pedro, com medo de alguns irmãos mais rigorosos que haviam sido mandados por Tiago, voltou atrás em sua anterior aprovação de um evangelho livre da lei para os gentios. E outros - inclusive Barnabé, antigo companheiro de missão de Paulo - seguiram o exemplo de Pedro. Por causa das leis alimentares dos judeus, eles não comiam com os gentios. Paulo repreendeu Pedro em público (11-14).
Depois de obter a liberdade através da fé em Cristo, como podiam reconstruir o sistema da lei que haviam derrubado (11-21)? A vida cristã deve ser vivida da mesma forma como começou - pela fé (20). Lembrando que a fé, não exclui a obediência ao Deus Eterno e Soberano.
Catorze anos depois (1) Isto pode ser desde sua conversão ou desde sua estada na Cilícia.
Ruínas da cidade de Antioquia de Pisídia,(⇚FOTO) antiga província romana da Galácia, hoje Turquia e onde Paulo pregou, juntamente com Barnabé.
Da parte de Tiago (12) Mas Tiago não compartilhava o ponto de vista deles (veja At 15.13-21).
Comia com as gentios (12) Veja Rm 14.2,14.
Vs. 17-18 O verdadeiro pecado não estava na violação das leis alimentares, mas na volta ao sistema da lei [cerimonial].
Vs. 19-20 Veja o comentário sobre Rm 6--7.
Gl 3--4: É fé, do começo ao fim
Segundo Paulo, só um tolo haveria de querer trocar a liberdade cristã pela lei judaica. Aqueles cristãos de origem judaica queriam circuncidar os gentios para que se tornassem filhos de Abraão. Só que os cristãos de origem gentílica já eram filhos e herdeiros de Abraão - porque tinham a mesma fé que Abraão havia tido (3.7,29). Deus aceitou Abraão séculos antes de a lei ser dada através de Moisés. Portanto, como é que a lei podia dar às pessoas o perdão (3.1518)? Ela atuou até que a promessa feita a Abraão fosse cumprida com a vinda de Cristo (3.19-24). Agora, pela fé nele, somos todos filhos de Deus - independentemente de raça, condição social, ou sexo.
Os gálatas haviam respondido com entusiasmo à pregação de Paulo. O que os levou a mudar de idéia (4.8-20)? Nesse texto transparece a preocupação amorosa de Paulo. Será que os gálatas queriam mesmo abrir mão de liberdade (4.8-9)? Os que vivem sob a lei são como o filho que Abraão teve com a escrava Agar. Mas os cristãos nasceram livres, e, como Isaque, são herdeiros de todas as promessas de Deus.
3.12 Lv 18.5.
3.13 Dt 21.23.
Anjos (3.19) O texto grego de Dt 33.1-2 diz: "O Senhor veio do Sinai... à sua destra estavam seus anjos com eles."
Rudimentos/poderes espirituais (4.3,9) As forças que os haviam controlado no passado; os falsos deuses que costumavam servir.
Dias (4.10) Dias das festas judaicas.
Por causa de uma enfermidade (4.13) Veja 2Co 12.7.
4.21 Aqui, Paulo se vale da história contada em Gn 16; 21.
Monte Sinai (4.24) Onde a lei foi dada a Moisés.
Gl 5--6: "Cristo nos libertou" (Veja AQUI as Cartas de Paulo no Hebraico Bíblico sobre o assunto da Lei e da Graça)
A liberdade é preciosa - preciosa demais para ser desperdiçada (5.1). A questão não é tanto a circuncisão, mas o que ela representa. Paulo está tão furioso com aqueles que perturbavam seus novos convertidos que gostaria que se castrassem de uma vez (5.12)! Os cristãos não devem se sujeitar à lei sacrificial e cerimonial, mas deixar que o Espírito de Deus os guie (5.16). Quando o Espírito vivificante de Deus está no comando, a vida humana produz uma farta colheita de amor, alegria, paz etc. (5.22) - qualidades totalmente contrárias ao que a natureza humana "natural" consegue produzir (5.16-21).
A comunidade cristã se preocupa com os outros e sabe compartilhar (6.1-6). Aqueles que falham são corrigidos (com humildade). Um ajuda a levar o fardo do outro. As pessoas colhem exatamente o que plantam na vida: por um lado, colheita de morte; por outro, colheita de vida eterna (6.7-9). Portanto, "devemos fazer o bem a todos, especialmente aos que fazem parte da nossa família na fé".
Neste ponto (6.11), Paulo tomou a pena da mão de seu secretário, para escrever as últimas linhas pessoalmente. Para ele, só há uma coisa de que vale à pena se orgulhar: o poder da cruz de Cristo, capaz de recriar e transformar vidas humanas. Ao exemplo da marca feita com ferro quente na pele de um escravo, as cicatrizes no corpo de Paulo, resultantes de seu trabalho por Cristo, mostram a quem ele pertence.
5.11 Alguns dos oponentes de Paulo estavam dizendo que ele era a favor da circuncisão.
As marcas de Jesus (6.17) Veja 2Co 4.7-12; 6.4-10; 11.23-29. As marcas do seu serviço cristão eram prova viva, caso ainda houvesse necessidade de provas, de que ele era verdadeiro apóstolo de Cristo.
"FORA DA LEI" EM GÁLATAS(*)
Em Gálatas, Paulo ensina a seus discípulos: “Se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei”(Gal 5:18; cf. Rom 6: 14-15; 1 Cor 9: 20-21). O que Paulo quer dizer com “não está debaixo da lei”? A resposta tradicional é que Paul (Shaul) abandonou a Torá por uma forma alternativa de vida - não uma vida de observância legal, mas uma vida sob a “graça” e “fé”. Esta suposta mudança no estilo de vida de Paulo assume que a graça e a fé estão em oposição à Lei de Deus, mas o próprio Paulo negou tal oposição muitas vezes (por exemplo, Rm 3:31; 4:16; 7: 7-16; 10: 5) . Um exame mais atento de Gl 5:18 mostra que Paulo não desdenha a Lei (longe disso), mas sim qualifica o escopo da Lei à luz da chegada do Messias. Devo adverti-lo, minha explicação das palavras do apóstolo o levará muito longe do caminho tradicional de leitura de Gálatas.
A noção de Shaul de não estar "sob a Lei" começa antes em Gálatas, quando ele pergunta: "Você recebeu o Espírito pelas obras da Lei ou por ouvir com fé?" (Gal 3: 2-3). Claramente, o Espírito trabalha por meio da fé! Paulo acrescenta: “Mas antes que a fé viesse, éramos protegidos pela lei, sendo encerrados juntamente com a fé que mais tarde seria revelada. Portanto, a Lei se tornou nosso tutor para nos conduzir a Cristo, para que possamos ser justificados pela fé. Mas agora que a fé veio, não estamos mais sob a orientação de um tutor. ” (Gal 3: 23-25).
Primeiro, Paulo freqüentemente usa o termo “fé” (πίστις; pistis ) em Gálatas como uma abreviação para “fé no Messias” e o termo “promessa” (ἐπαγγελία; epangelía ) para a herança prometida dada a Abraão (cf. Gn 12 : 1-3; 15: 18-20). A herança ou promessa é algo que um herdeiro recebe quando o filho amadurece. De acordo com Paulo, seus discípulos da Galácia já receberam a “promessa / herança abraâmica” pelo Espírito, sem o envolvimento da Torá (Gl 3: 26-29). Os judeus podem receber a mesma “promessa / herança da aliança” através do Espírito no processo de serem guiados pela Torá.
Em segundo lugar, Shaul compara a custódia de um zelador ou tutor (grego: παιδαγωγός; paidagogós ) sobre um menor com a custódia da Torá sobre Israel. Esta não é uma ilustração perfeita (porque destaca apenas um lado da Torá), mas Paulo apresenta a ideia de “tutor” como um exemplo da vida romana que seu público entenderia. Em inglês, um tutor ou pedagogo pode implicar instrução acadêmica, mas em grego ou hebraico, os termos implicam em treinamento prático em habilidades para a vida. Em hebraico (מוֹרֶה ; moreh ) “professor” ou “instrutor”, “alguém que aponta para a direção certa” está relacionado com a palavra Torá (תּוֹרָה; torá ). “Lei” grega (νόμος; nomos) não é a melhor tradução para esse relacionamento, mas as traduções raramente são perfeitas ou precisas. A questão da Torá surge porque Paulo endereça sua carta a não judeus que estão considerando a circuncisão e a conversão formal , o que os obrigaria a viver de acordo com os mandamentos da Torá.
Portanto, tendo isso em mente, o que Paulo quis dizer com não estar “sob a Lei” ou “sob a orientação de um tutor” em sua ilustração? A resposta pode ser surpreendentemente direta. Herdeiros maduros sabem como seu pai deseja que eles ajam e não exigem a aplicação de regras por um zelador que já os ensinou a viver bem em sociedade.Gálatas não são judeus e, tecnicamente, eles nunca estiveram “sob a lei” e, portanto, não exigem emancipação dela. Portanto, aplicar este cenário a não judeus não é inteiramente apropriado. Paulo meramente diz que existem dois caminhos para a herança, um através do Espírito e outro através da Torá que conduz a Cristo. (Gal 3:24). Mas os gálatas não conheciam a Torá. Eles nem mesmo conheciam a Deus antes de Paulo os apresentar a Jesus (Gl 4: 8; cf. Ef 2:12), então, sob que lei eles poderiam estar antes do Messias?
Na verdade, ao longo da história de Israel, a Torá serviu como um guia, como um professor e guardião que instrui, corrige e até mesmo disciplina. A Torá preservou Israel como um povo que vive entre as nações pagãs por muitas gerações, permitindo-lhes finalmente ver os dias do Messias. Agora que o Messias veio, aqueles que o abraçam são “herdeiros maduros”, eles estão prontos para receber sua herança / promessa. Eles são guiados pelo Espírito e, portanto, não “sob o tutor”.No entanto, isso não significa que Israel, como um herdeiro maduro, pode agora ignorar tudo o que lhe foi ensinado desde a infância e agora pode viver como quiser, sem quaisquer consequências. O ensino da Torá nunca deixa de ser válido e verdadeiro. A ilustração de Paulo não deve ser levada muito longe. As ilustrações raramente são perfeitas e simplesmente existem para esclarecer uma ideia. Na verdade, as ilustrações não devem ser examinadas ou transformadas em teologia. O ponto original de Paulo é que os gálatas, que são gentios, não devem ser circuncidados e rapidamente adquirem um tutor para si mesmos. O seu caminho para a “promessa” (ἐπαγγελία; epangelía ) é diferente, segundo o seu mestre (Gal 5, 18) e por isso “não estão debaixo da lei”. (*Este texto é parte de um artigo publicado em Israel Bible Center por Pinchas Shir
muito obrigado. Deus abençoe
ResponderExcluirAmém! Graciosa paz :)
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