O juízo de Deus sobre Judá
Ez 4--5: Ezequiel representa simbolicamente o cerco de Jerusalém
Os materiais necessários a dramatização estavam à mão: um grande tijolo secado ao sol no qual Ezequiel fez um desenho da cidade, e uma assadeira de ferro sobre a qual se assavam as finas massas de pão. Estamos no âmbito dos símbolos, como em muitas partes do livro.
O povo viu o que Ezequiel estava fazendo e entendeu a mensagem. Com horror crescente, ele o viram pesar sua escassa porção diária de pão feito de uma mistura de cereais e medir a água que poderia beber. Viram o profeta definhando, como aconteceria com a população de Jerusalém durante o cerco.
Depois (cap. 5), viram-no raspar a cabeça, compartilhando a desgraça de Jerusalém. Viram-no queimar uma parte dos cabelos e lançar outra parte para o ar, até restarem apenas alguns fios, que simbolizavam os próprios exilados.
4.5-6 As instruções dadas em 4.9--5.4 indicam que Ezequiel provavelmente ficava deitado de um lado durante parte do dia, não continuamente. A versão grega diz 190 dias. Da queda de Samaria, em 722/1 a.C., ao retorno dos exilados em 583 passaram-se 184 anos. Da queda de Jerusalém, em 587 a.C., até o ano 538 são 49 anos. "Quarenta" pode representar uma geração, não um número exato.
4.9, 12 Quando a cidade está sitiada, ninguém se importa com os ingredientes usados para fazer pão. Nada aqui contradiz as leis alimentares.
Vinte siclos (4.10, ARA) Cerca de 230 g.
A sexta parte de um him (4.11, ARA) Pouco mais de meio litro.
Imundo... abominável (4.13-14) Ezequiel podia aceitar a escassa dieta que lhe estava sendo imposta, mas fazer fogo com fezes humanas para assar o pão era demais para ele. Mesmo no exílio, ele se mantivera ritualmente puro, observando as leis alimentares (veja Lv 11), como Daniel e seus amigos também fizeram na corte babilônica (Dn 1). Fazer fogo com fazes de gente tornaria a comida "imunda". Deus entendeu as razões do profeta e deixou que ele usasse esterco de vaca (que é usado ainda hoje, no Oriente, para fazer fogo.
Ez 6--7: Este é o fim da linha
A mensagem dramatizada foi reforçada pela palavra falada. A nação estava prestes a ser destruída por causa da flagrante idolatria do povo, e desse castigo não havia como escapar. Então eles saberiam que o Senhor realmente era Deus. Um desastre terrível e total estava por cair sobre eles.
Ribla (6.14; leitura provável, embora no hebraico seja Dibla) Ribla, junto ao rio Orontes, ficava perto perto da fronteira norte de Israel. "Deste o deserto até Ribla" significa "do sul ao norte do país".
Abominações/coisas nojentas (7.3-4,8-9) Uma referência à adoração de outros deuses e à prostituição ritual e outras práticas associadas a isto.
O que vende não se entristeça (7.12) Por ter sido forçado a vender a terra que rea a sua herança.
7.18 As cabeças rapadas eram sinal de desgraça e de luto.
Ez 8--11: Uma segunda visão: Deus abandona o Templo
Em setembro de 592, Deus se manifestou a Ezequiel uma segunda vez (compare 8.2 com 1.27). Em visão, ele foi levado a Jerusalém e colocado perto do Templo (8. 1-4). O que ele viu ter sido algo que estava de fato acontecendo ali, mas existe a possibilidade de que a descrição seja simbólica. Seja como for, o significado era claro, Israel abandonou completamente a verdadeira religião. A imagem da deusa cananéia Astarte (a "imagem dos ciúmes", 3) havia sido colocada no Templo de Deus. Os líderes da nação estavam praticando secretamente a adoração de animais (8.7-13). As mulheres (8.14) estavam de luto pelo deus sumério Tamuz, que supostamente morria com o ano velho e ressurgia na primavera. Os homens rejeitaram a Deus para adorar o sol (8.16).
Ao contrário do que muitos pensavam (8.12), Deus estava vendo e julgando (9.9-10). Somente aqueles que lamentavam a perda da verdadeira fé seriam poupados (9.4-6).
Cap. 10: após a terrível matança que fez Ezequiel interceder pelo povo (9.8), ele teve outra vez visão dos querubins e da glória, descrita no cap. 1. Que contraste entre esta visão de Deus em toda sua glória e as cenas repugnantes de idolatria no seu Templo, descritas no cap. 8! Esta a razão pela qual a presença de Deus seria retirada, deixando o Templo como casca oca e Jerusalém sem seu coração e sua alma.
Mas, antes disso, Ezequiel viu dois homens que ele reconheceu. Eram líderes do povo que defendiam resistência à Babilônia, por mais que os profetas de Deus tivessem insistido que isto seria fatal (11.1-4). Ezequiel pronunciou o juízo de Deus sobre eles, e, enquanto falava, para seu espanto, Pelatias caiu morto (11.5-13), confirmando a palavra de Deus. Mas Deus não "daria fim ao resto de Israel" (13). O futuro estava com os exilados. E com esta afirmação, esta mensagem (25), a visão terminou.
Jazanias (8.11) O pai dele havia sido o secretário de estado do rei Josias; seu irmão Aicã, amigo de Jeremias. Não é o mesmo homem que aparece em 11.1
Chegar o ramo ao seu nariz (8.17) Talvez se refira a alguma prática pagã.
9.2 A roupa dos sacerdotes era feita de linho. Linho indicava pureza.
Sinal (9.4) Jeremias, Baruque e o estrangeiro Ebede-Meleque estavam entre os que tinham o "sinal na testa" para serem poupados (Jr 40.4; 45; 39.15-18). Em Apocalipse, os servos de Deus são selados na fronte (7.3; 9.4; 14.1), sendo que o mesmo acontece com aqueles que se rendem às forças do mal (13.16). Aqui em Ezequiel, o sinal era o TAV, a última letra do alfabeto hebraico, grafado em forma de cruz na escrita antiga
9.9 A idolatria havia sido o pecado principal até o momento. Aqui é evidente que as leis mais básicas foram quebradas.
11.3 Um versículo difícil, que mais provavelmente significa que não era o momento para construções típicas de tempos de paz. A panela protege a carne das chamas.
Espírito novo (11.19) Veja Ez 36.26 e compare Jr 31.33-34.
Ez 12: Ezequiel age como um refugiado
Embora a maioria das pessoas se recusasse a ouvir, o profeta continuou a divulgar a palavra de Deus (1-3). Ao arrumar a sua trouxa, preparando-se para fugir, e ao abrir o buraco na parede, à noite, Ezequiel representava não apenas um refugiado qualquer, mas o rei Zedequias ("o príncipe", 10). Compare 12-13 com Jr 52.7-11.
A profecia de Ezequiel se cumpriu nos mínimos detalhes. Zedequias não podia ver porque seus olhos foram vazados. Foi como Deus disse que seria, e num curto espaço de tempo (21-28).
Ez 13: Falsos profetas
O trabalho de Jeremias e Ezequiel era constantemente minado por falsos profetas. Estes diziam o que o povo queria ouvir e alegavam ter autoridade divina para o anúncio daquilo que era uma flasa esperança. Eram como o reboco que escondia a combalida estrutura da nação, mas que não conseguia impedir a sua queda no momento de crise (10-16). Também havia profetisas, praticando magia e escravizando pessoas indefesas (17-23).
Ao contrário dos falsos profetas, quando Deus diz que algo mai acontecer ele está falando sério, e ele tem o poder para fazer com isso se cumpra. Mesmo assim, muitas vezes a profecia tinha um aspecto condicional: a reação do povo (em arrependimento, por exemplo) podia trazer uma alteração na forma como Deus realizava seus planos (veja cap. 18; 29.17-29; também Am 7.1-3,4-6).
V. 18 Essa magia podia ter algo a ver com amuletos, ou representar um tipo de poder para "amarrar" alguma força. Com isso porém, se "caçava almas" (ARA), ou seja, vidas, pessoas inteiras, pois não havia lugar para espíritos desvinculados de corpos no sistema de pensamento hebreu.
Ez 14: Deus castigará os idólatras
Deus reivindicava exclusividade no coração do seu povo. Aqueles que lhe negassem essa condição, adorando ao mesmo tempo ídolos, estavam se colocando na rota da destruição. A maioria pensava que a presença de uns poucos piedosos entre eles era uma garantia contra o desastre. Mas, numa hora daquelas, até mesmo Noé ou Jó só poderiam salvar a si próprios.
V. 14 É interessante que os heróis modelares do passado, Noé e Jó, não eram israelitas. Danel não é o Daniel que conhecemos, o contemporâneo de Ezequiel no exílio, pois o nome é escrito de forma diferente (veja NTLH). Num antigo cananeu aparece um "Dan´el", que é um personagem justo. A referência pode ser ele ou a algum outro herói antigo que representava o mesmo ideal de piedade.
V. 21 Estes castigos ou flagelos eram os que mais apavoravam os povos antigos (veja Jr 14.12).
Ez 15: A parábola da videira
A videira era um símbolo bastante usado para representar Israel. A essa altura não havia dúvida de que a videira não daria fruto; e como a sua madeira não serve para fazer objetos, só restava a opção de lançá-la ao fogo. Israel já estava parcialmente destruído (4); não lhe restava nada além da destruição total (6-8).
V. 6 O fogo do qual os moradores de Jerusalém escaparam foi a deportação anterior, em 597 a.C., na qual o próprio Ezequiel foi levado ao exílio.
Ez 16: A esposa que dormia com qualquer um que passava
A questão era fidelidade. Jerusalém (a nação) fora infiel a Deus. Assim, é natural que nessa parábola se use imagens de caráter sexual, especialmente tendo em vista os ritos sexuais e a prostituição de deus pagãos.
Deus acolheu Israel quando ela não era nada -- uma criança abandonada da qual ninguém queria saber -- e a cercou com todo o seu amor, fazendo dela uma nação grande e gloriosa. Ela devia tudo a ele. Mas a prosperidade lhe subiu à cabeça e, como esposa que se entrega à prostituição, ela promiscuiu-se com os países vizinhos. Ela os 'seduziu' e adorou seus deuses, com todas as práticas horríveis que isto envolvia (20-29). Deus foi esquecido; a aliança (como um voto de casamento) foi quebrada. Deus se vê obrigado a castigar (35-43), mas também promete restaurar o seu povo (53.60), fazendo com eles uma nova aliança que duraria para sempre (60,62: veja também Jr 31.31).
Amorreu... hetéia (3) A referência é ao parentesco moral, não literal. Israel se tornara tão decadente quanto os destruídos na conquista de Canaã.
V.4 Estes eram os deveres da parteira.
V.8 Com o gesto simbólico de cobrir com a capa ele a aceitou em casamento. Veja Rt 3.9. Deus selou o contrato com a aliança do Sinai.
V.38 Adultério era punido com pena de morte.
V.46 "Samaria" era a capital do reino do Norte, destruída em 722/1. "Sodoma" era a cidade que ficava perto do mar Morto e que foi destruída por sua imoralidade extrema (Gn 19).
Ez 17: A parábola das águias e da videira
A parábola dos vs. 1-8 é explicada, detalhe por detalhe, em 11-15. A primeira águia é Nabucodonosor da Babilônia, que prendeu o rei Joaquim (3-4). A muda que ele planta (5,13) é Zedequias. Mas Zedequias logo pediu ajuda (7,15) ao Egito (a segunda águia), levando os babilônios a destruir Jerusalém.
Em 587, três ou quatro anos depois, a previsão de 17-21 se cumpriu (veja Jr 52). Mas Deus arrancaria uma "ponta" da linhagem dos reis de Israel (o cedro) que, plantada, vingaria (22-24).
V.8 Parece melhor interpretar isto como uma uma forma de dizer que Zedequias era bem tratado no tempo de Nabucodonosor (como diz o v. 5).
Crônica babilônica que menciona a tomada de Jerusalém em 597 a.C. |
Ez 18: Chamado à responsabilidade
Ao contrário do ditado popular (2), Deus não era tão injusto a ponto de castigar uma geração pelos pecados de outra (20). Cada um era responsável pelos seus próprios pecados. Deus não tem prazer em assinar a pena de morte de ninguém (23). Sua preocupação sempre é que as pessoas abandonem o mal e vivam (30-32). E Ele deixou seus padrões bem claros (5-9; 14-17).
Alma (4) "Vida" (veja 13.18, acima).
Vs. 5-9,10-13 Nos dois exemplos aparecem misturadas leis de natureza cúltica e leis sociais. Todas faziam parte da lei de Deus, a lei da aliança estabelecida em Êxodo, Levítico e Deuteronômio.
V.20 Ezequiel estava restabelecendo o equilíbrio, não negando o princípio básico de que na vida os filhos sofrem as consequências dos erros dos seus pais (Êx 20.5).
Ez 19: Lamentação pelos reis de Israel
O poema foi escrito no ritmo familiar da lamentação fúnebre. A leoa é Judá; os reis, seus filhotes. O primeiro (3) era Joacaz, levado para o Egito pelo Faraó Neco, em 609. O segundo (5) era Joaquim. Agora, graças à rebelião de Zedequias, a nação e sua linhagem de reis seriam destruídas(10-14).
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Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11