Cada um dos quatro Evangelhos tem sua própria ênfase especial (veja "Os Evangelhos e Jesus Cristo", quatro retratos de Jesus).
Mesmo sendo o primeiro (na ordem do cânone), Mateus é aquele que para muito leitores é o mais difícil. Mas para os primeiros cristãos era muito importante mostrar que a nova fé lançava raízes no judaísmo, e é exatamente isto que Mateus, com seu grande número de citações da Bíblia hebraica, procura fazer. Este Evangelho é uma "ponte", ligando Jesus a tudo que veio antes.
O autor é um cristão de origem judaica que escreve para uma igreja composta principalmente de cristãos como ele. Ele se esforça por apresentar Jesus como o tão esperado Messias, o Cristo prometido no AT (veja "A religião judaica na época do NT"). Ele registra cuidadosamente o que Jesus disse sobre o seu reino, um conceito radicalmente diferente da idéia de Messias corrente naqueles dias, quando a maior parte dos judeus esperava um líder político que livraria o povo do domínio romano.
Mateus se concentra no ensino de Jesus, fazendo uma cuidadosa organização do seu material e alternando entre narrativa e ensino. O ensino de Jesus aparece em cinco seções principais:
• caps. 5--7 (o famoso "Sermão do Monte"): discipulado
• cap. 10: missão
• cap. 13: parábolas de Jesus
• cap. 18: o relacionamento entre os seus discípulos
• caps. 24--25: o futuro
Mas Mateus não dá a entender que a "boa nova" se destina exclusivamente a seu próprio povo, os judeus. A maioria dos judeus a havia rejeitado e continuava a rejeitar (algo tão doloroso para o autor que muitas vezes ele soa anti-judaico). Assim, este Evangelho, que começa olhando pra trás, para o AT, termina com a grande comissão de Jesus: "Ide, fazei discípulos de todas as nações".
O autor
Pessoas transitam numa rua coberta com arco na Jerusalém antiga |
O Evangelho não diz quem é seu autor, mas desde o início foi atribuído a Mateus, o apóstolo e ex-coletor de impostos a serviço dos romanos. Pouco se sabe sobre ele. E além do fato de o Evangelho se encaixar no período entre 50 e 100 d.C., ninguém sabe ao certo quando e onde foi escrito. Boa parte do material de Mateus é quase idêntico ao de Marcos, e Marcos obteve informações junto ao apóstolo Pedro. Atualmente a maioria dos estudiosos acredita que Mateus se inspirou em Marcos (e não vice-versa) e datam o Evangelho do período após 80 d.C.
Temas principais
•O AT aponta para Jesus, em quem se cumprem todos os propósitos de Deus.
•Jesus é o Messias, "Filho de Deus" e "Filho do Homem", o Rei que Deus havia prometido.
•Jesus tanto cumpre como transforma a Lei que Deus deu a Israel através de Moisés.
•O povo de Deus, agora, são aqueles que respondem com fé à mensagem de Jesus.
Mt 1--2
Nasceu Jesus, o Messias
Mt 1.1-17: A dinastia do verdadeiro Rei
Veja também Lc 3.23-38. As duas listas seguem uma ordem inversa e dão nomes diferentes a partir de Davi (apenas Zorobabel e Salatiel aparecem em ambas).
O propósito de Mateus é mostrar que Jesus é o verdadeiro Rei, descendente da linhagem real de Davi, como Deus prometera. É possível que em Mateus tenhamos a lista de herdeiros do trono, enquanto Lucas dá a genealogia de José.
A lista de Mateus foi estilizada e abreviada para que coubesse no seu padrão:
14 nomes de Abraão a Davi;
14 nomes de Davi a Jeconias;
14 nomes de Jeconias a Jesus. Quatorze é 2 x 7, e o número sete significa perfeição. "Seis setes" (3 x 14) se passaram e o "sétimo sete" está prestes a começar. A lista de Mateus tem dois pontos decisivos: Davi (o início da monarquia) e o exílio (seu fim). Seu propósito é estabelecer uma base para o que vem depois: seu grande tema de que em Jesus as Escrituras se cumpriram.
É possível que 14 seja o valor numérico do nome de Davi, já que as letras/consoantes do alfabeto hebraico serviam também de números: d (4) + v (6) + d (4) = 14.
Filho/descendente de Davi (1) Deus havia prometido a Davi que ele nunca ficaria sem um descendente para ocupar o trono. Mas Judá deixou de ser uma monarquia por ocasião do exílio. E a promessa passou a ser aplicada ao Messias.
Vs. 3-6 Não era comum incluir mulheres numa lista como esta, porém quatro são mencionadas em Mateus. Nenhuma delas teria sido incluída se Deus se preocupasse apenas com pessoas de origem judaica e que tivesse boa reputação. Tamar teve um filho com Judá, seu sogro, que não a havia tratado com justiça (Gn 38); Raabe era uma prostituta de Jericó que ajudou os espiões judeus (Js 2); Rute, uma moabita que aceitou o Deus de sua sogra como o Deus dela também (Rt 1--4); e a mãe de Salomão (mulher de Urias) foi Bate-Seba, com quem Davi cometeu adultério (2Sm 11).
V. 11 O verbo "gerar", bem como a palavra "filho" (v.1), pode ser usado num sentido mais amplo. Josias foi avô, e não pai, de Jeconias.
Mt 1.18-25: "Deus conosco"
O relato mais completo do nascimento de Jesus, em Lucas,focaliza Maria; o relato de Mateus focaliza José. Este era descendente de Davi (v.20). Jose deu/adotou Jesus (que não era seu filho), e isto fez com que Jesus oficialmente se tornasse um "filho de Davi", como as Escrituras exigiam. No v. 23, Mateus nos dá a primeira de cinco citações do AT nas caps. 1-2, cujo propósito é mostrar que Jesus cumpriu tudo que os profetas previam (veja também 2.6,15,18,23). Aqui as palavras de Isaías passam a ter novo significado: em Jesus (do hebraico "Josué", nome que significa "Deus salva"), Deus de fato está aqui conosco (o significado do nome "Emanuel").
»V. 18 Na sociedade judaica, os noivos se obrigavam juridicamente e um noivado só podia ser rompido mediante divórcio.
»V. 25 A implicação é que, após o nascimento de Jesus, Maria e José levaram uma vida normal de pessoas casadas (veja também 13.55-56). Jesus nasceu entre 6 e 4 a.C. Orei Herodes o Grande morreu em 4 a.C.
Mt 2: Adoração - e uma ameaça
Homens do Oriente (Pérsia, Babilônia ou Arábia) vieram adorar o menino que havia nascido para ser Rei. Eram astrólogos. Eles eram chamados de "magos" ou "sábios" porque estudavam as estrelas e os seus significados. E não tinham dúvida de que a nova estrela indicava o nascimento do Rei prometido em Judá. (A tradição cristã identifica os magos como três reis e dá um significado especial a cada um dos presentes: ouro para um rei; incenso para Deus; mirra para o um homem mortal.)
VISITE TAMBÉM:
A notícia que os magos trouxeram não foi bem-vinda no palácio. Herodes o Grande, rei dos judeus de 37-4 a.C., tinha ciúme assassino de todos os seus rivais. "Herodes suspeitava de qualquer pessoa que, segundo ele, poderia vir a representar uma ameaça para ele como rei. Amigos de outros tempos, servos, um grande número de inimigos, sacerdotes, nobre e todos os que de uma ou de outra forma se atravessaram no caminho dele foram mortos" (A.R. Millard). O massacre em Belém não fugiu à regra de outros massacres patrocinados por Herodes de que temos registro. Mas Deus tem como proteger os seus e, advertida pelo anjo, a pequena família fugiu para o Egito.
Jesus, como Messias, tinha que nascer em Belém (no v. 6, Mateus em parte citou e em parte interpretou as palavras do profeta Miquéias). O v. 15 (citando os 11.1) faz a ligação com Israel como filho de Deus, resgatando do Egito no êxodo. O v. 23 não é uma citação bíblica como tal, embora haja, no AT,muitas indicações sobre a origem humilde do Messias. Isto explica o nome pelo qual ele era conhecido: "Jesus de Nazaré".
V. 18 Jeremias (31.15) está falando da tristeza trazida pelo exílio babilônico. Raquel, a figura materna de Israel, era a esposa amada de Jacó. Ela morreu de parto em Ramá, no caminho para Belém.
Arquelau (22) Este filho de Herodes herdou um terço do reino de seu pai, governando a Judéia, a Samaria e a Iduméia de 4 a.C. a 6 d.C. Por tomar medidas repressivas, foi deposto pelos romanos, que assumiram eles próprios o governo da Judéia. Veja "A família de Herodes".
Mt 3--4 O início da missão de Jesus
Mt 3: João Batista
Veja também Mc 1.2-11; Lc 3.2-22. A história do nascimento de João se encontra em Lc 1.
Há um intervalo de cerca de 30 anos entre os caps. 2--3 do Evangelho de Mateus. Naquele momento, a voz de João Batista, chamando o povo de Deus para se preparar para o Messias, atraiu multidões para o deserto da Judéia. André, o irmão de Pedro, foi um dos que atendeu e foi batizado por João (Jo 1.35-40).
O "lavar" do batismo simbolizava uma purificação radical na vida da pessoa, um novo começo, uma volta para Deus. O batismo de João, ao contrário das lavagens rituais praticadas naquele tempo, era aplicado só uma vez. Jesus não precisava dele, como os vs. 14-15 e o restante do NT deixam claro. Ele não precisava ser batizado para ter perdão, porque ele não tinha pecado. Mas era necessário deixar que fosse assim "por enquanto", porque Jesus devia "cumprir toda a justiça" para salvar o mundo . Assim, ele entrou no rio Jordão, aceitando o seu destino, para receber a comissão e a bênção de Deus.
Mateus já demonstrou que Jesus é o Messias, o "filho" de Davi. No v. 17 (Sl 2.7; Is 42.1), Jesus é chamado de Filho do próprio Deus. Agora ele começava a percorrer o caminho do "Servo cuja missão é carregar os pecados do povo" (R. T. France).
Reino dos céus (2) Veja "Jesus e o reino".
V. 4 Veja nota em Mc 1.1-8.
Fariseus e saduceus (7) Veja "A religião judaica na época do NT".
Mt 4.1-11: A provação de Jesus
Veja também Mc 1.12-13; Lc 4.1-13. Na tentação, isto é, na severa provação a que ele foi submetido depois de um jejum de 40 dias, Jesus enfrentou aquilo que, ao longo de todo o seu ministério, continuaria testando a sua intenção de realizar a obra de Deus da maneira como Deus tinha planejado. Ele tinha poder - poder para alimentar os famintos, curar os enfermos, ressuscitar os mortos. Como ele usaria esse poder? Para satisfazer suas próprias necessidades (legítimas)? Para pôr Deus à prova? Para atrair seguidores? Quando chegasse a hora, ele usaria o seu poder para se salvar, ou, confiando em Deus, trilharia o caminho da cruz para salvar os outros? Jesus respondeu às propostas de Satanás com palavras das Escrituras, citando Dt 8.3; 6.16; 6.13 - passagens importantes relacionadas com os 40 anos de Israel no deserto, quando Deus testou a obediência do seu povo (Dt 8.2).
V. 1 Deus queria testar Jesus, mas o agente foi o Diabo (da palavra grega para "tentador"), que faz uso de tudo que pode para tentar afastar as pessoas de Deus.
Levou-o (8) Literalmente ou numa visão.
Mt 4.12-25: Na Galiléia
João foi lançado na prisão. Ao ouvir a notícia, Jesus foi para o norte, no que pode ter sido uma retirada estratégica. Mateus viu nisto o cumprimento de outra profecia do AT (14-16).
Jesus deixara sua cidade de Nazaré. Agora, durante todo o seu ministério na Galiléia, sua base seria a cidade de Cafarnaum, às marges do lago. Ali ele chamou os seus primeiros discípulos (veja "Os doze discípulos de Jesus" ) e começou o seu ministério público. Andou por toda a parte, ensinando, pregando as boas novas do Reino e curando doentes.
Decápolis/Dez Cidades (25) Dez cidades gregas livres a sudoeste da Galiléia.
Parábolas | Milagres | Episódios |
O joio | Os dois cegos | O sonho de José |
O tesouro escondido | O mudo possesso por demônio | A visita dos magos |
A pérola | A moeda na boca do peixe | A fuga para o Egito |
A rede | O massacre de Herodes | |
O credor incompassivo | O sonho da mulher de Pilatos | |
Os trabalhadores na vinha | A morte de Judas (também em Atos) | |
Os dois filhos | Uma parte do ensinamento de Jesus | Os santos ressuscitados em Jerusalém |
O casamento do filho do rei | só se encontra em Mateus, inclusive | O suborno dos guardas |
As dez virgens | seu maravilhoso convite, | A grande comissão |
Os talentos | "vinde a mim". |
Continue estudando. Click nos ícones abaixo.
Evangelho de Mateus caps. 5 ao 11
|
Evangelho de Mateus caps. 12 ao 19
|
Vc é incrível! Obg por compartilhar esse material conosco, Deus a abençoe!
ResponderExcluirAmém. Obrigado por sua leitura. Graciosa paz! :)
Excluir