Evangelho de João caps. 2 ao 7
Jo 2.1-12: Jesus numa festa de casamento
O primeiro milagre de Jesus foi realizado num contexto bem simples. Uma festa de casamento normalmente durava uma semana, e, quando o vinho acabou, o noivo (que o providenciava) deve ter ficado muito envergonhado.
Este é o primeiro dos "sete" sinais escolhidos por João. Todos têm um propósito: dar sustentação às reivindicações de Jesus e levar à fé ou confirmar a fé. Nenhuma lição é tirada dessa história, mas a água geralmente é considerada símbolo do antigo sistema religioso que Jesus transformou.
Caná (1) A cidade natal de Natanael (21.2), que ficava uns 6 km ao norte de Nazaré.
V. 4 Ninguém, nem mesmo a mãe, tinha o direito de pressionar Jesus. Mas a resposta dele não foi tão ríspida como algumas traduções sugerem. O significado provavelmente é "as suas preocupações não são iguais às minhas". "Minha hora" é significante em João, apontando o cumprimento da missão de Jesus.
V. 6 A água que estava nos potes de pedra era usada para lavagem ritual das mãos e dos utensílios.
Jo 2.13--3.36 Jesus em Jerusalém na festa da Páscoa
No casamento em Caná da Galiléia, Jesus realizou seu primeiro milagre: transformou água em vinho. (A talha de pedra, ao lado, está no museu Rockefeller, em Jerusalém.)
Veja notas em Mt 21.12-17. João colocou esse incidente no início do ministério de Jesus, ao passo que os outros Evangelhos o colocam no final. É possível que ele tenha ignorado a cronologia exata em favor de considerações mais importantes. Jesus, o Messias, visitou "seu" Templo e afirmou a sua autoridade igual, sendo imediatamente questionado pelas autoridades sobre o direito de fazer aquilo.
Páscoa (13) Veja Mt 26.14-29.
Vs. 20-21 João pressupõe que os seus leitores conhecem a história da morte e ressurreição de Jesus. O Templo era, num sentido especial, o lugar da presença de Deus. Era ali que as pessoas podiam chegar o mais próximo possível de Deus. Com a vinda de Jesus isso mudou: ele podia se apresentar como o Templo de Deus. Quem tinha visto Jesus tinha visto também o Pai (14.9). Veja "O Templo de Herodes", para uma descrição do Templo na época de Jesus.
Jo 3.1-21: O encontro com Nicodemos
Nicodemos, membro do Conselho Superior dos judeus (o Sinédrio), decidiu visitar o Mestre em sigilo, à noite. Mais tarde ele declarou publicamente estar do lado de Cristo (7.50-51; 19.39). Fica claro que as duras críticas que Jesus fez sobre alguns fariseus não se aplicavam a todos.
A locução "reino de Deus", tão frequente nos outros Evangelhos, aparece uma única vez em João, no v. 3. Ele usa sempre de novo a expressão "vida eterna" (16). Entrar no reino de Deus significa um recomeço radical. A nova era que Jesus inaugurou não é determinada pelo antigo ciclo de nascimento e morte física. A vida eterna envolve algo que só pode ser descrito como um novo nascimento, como um "nascer do Espírito".
Os vs. 16-21 podem ser vistos como palavras de Jesus ou como um comentário de João. Neles aparece o cerne da mensagem do evangelho. Jesus veio salvar. Essa salvação está à disposição de todo o mundo, mas só pode ser recebida pela fé. A consequência da vinda de Jesus para aqueles que o rejeitam é o juízo.
Vento/Espírito (8) No grego, assim como no hebraico, a mesma palavra pode ter esses dois significados. Assim, o que temos aqui é um jogo de palavras.
Serpente/cobra de bronze (14) Veja Nm 21.4-9. Jesus foi "levantado" quando de sua crucificação.
Jo 3.22-36: João diz: "Eu não sou o Cristo"
Por um tempo, o ministério de Jesus correu paralelo ao de João Batista, e Jesus atraiu maiores multidões A reação de João foi exemplar. Não há nenhum sinal de amargura ou inveja que pudesse ter abalado a sua alegria com o sucesso que Deus deu a Jesus. Ele ficou feliz em deixar que Jesus ficasse sob os holofotes, enquanto ele mesmo foi como que saindo pela porta dos fundos (30).
Os vs. 31-36 podem ser vistos como palavras de João Batista ou um comentário do autor do Evangelho.
V. 22 Veja 4.1-2.
V. 24 Veja Mc 6.17-29. Aqui e em outras passagens o autor supõe que seus leitores conheçam os fatos principais (embora Mc 1.14 e Mt 4.12 digam que João foi preso antes de Jesus começar o seu ministério público).
Jo 4.1-42 Jesus e uma mulher samaritana
Jesus escolheu o caminho mais curto de Jerusalém à Galiléia. Esse caminho passava pela Samaria e normalmente era evitado pelos judeus, já que mais de 700 anos de preconceito racial e religioso separavam os judeus dos samaritanos (veja sobre samaritanos em "A religião judaica na época do NT"). Se aliarmos a isso o fato de que os judeus costumavam fazer a oração, "Bendito és tu, Senhor,... por não me teres feito mulher", está explicada a surpresa da mulher samaritana (v. 9) quando Jesus se pôs a falar com ela.
Mulher no Poço, João 4 -
Poço de Jacó, Samaria. Israel
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Como resultado desse encontro, aparentemente tão insignificante, muitos creram: alguns através do testemunho da mulher, muitos outros quando ouviram as palavras do próprio Jesus.
Sicar (5) Provavelmente Ascar, que fica próxima à fonte de Jacó.
V. 13 Veja a promessa de Jesus em 7.37-38.
V. 20 Para os samaritanos, o centro de culto era o monte Gerezim; para os judeus era Jerusalém. Jesus disse que o lugar não era importante. O que importava era que o culto viesse do coração e fosse prestado com verdadeira fé.
Jo 4.43-54
Na Galiléia, Jesus cura o filho de um oficial
Este é o segundo sinal registrado por João (veja nota em 2.1-12, acima). Jesus não fez nenhum milagre apenas para impressionar. O objetivo dos milagres, como se pode ver neste caso (v. 53), era levar à fé e fortalecê-la. Ao registrar os milagres, o propósito de João é exatamente o mesmo.
Jo 5
Jo 5
Outra vez em Jerusalém
Jo 5.1-18: Problemas no sábado
A cura de um doente crônico no tanque de Betesda (ou Betezata) é o terceiro sinal que aparece em João (veja 2.1-12; 4.43-54).
Em várias ocasiões, Jesus entrou em conflito com as autoridades religiosas por causa de curas realizadas no sábado (Mc 3.1-6; Lc 13.10-17; 14.1-6; Jo 9). Jesus não discordava do princípio mais amplo de que o sábado era um dia especial (ele frequentava a sinagoga com regularidade), mas discordava das restrições menos importantes impostas pelas autoridades religiosas. Não raras vezes essas restrições conflitavam com o propósito que Deus tinha em vista ao dar ao povo um dia semanal de descanso e adoração. Nessa ocasião, em Jo 5, Jesus foi criticado por dois motivos: violação do sábado e blasfêmia. A suposta blasfêmia consistia em colocar o que ele estava fazendo no mesmo nível das obras de Deus (17). Jesus respondeu que a ação de Deus no mundo não terminou com a criação.
38 anos (5) Isso nos dá idéia do desespero daquele homem. Ele estava ali havia tanto tempo e tentara tantas vezes ser o primeiro a entrar na água que praticamente perdera as esperanças.
Os judeus (10) Aqui e no v. 18 trata-se, com certeza, de autoridades religiosas que se opuseram a Jesus (veja NTLH).
Jo 5.19-47: Em nome de Deus
Aqueles que se opunham a Jesus tinham razão: Ele estava "fazendo-se igual a Deus" (18), embora não fizesse nada sem Deus (19). "Eu não posso fazer nada por minha própria conta... (Eu faço) a vontade daquele que me enviou" (30). Mas as reivindicações que ele faz a respeito de si mesmo são surpreendentes. Como "Filho de Deus",
•ele conhecia o plano de Deus (20);
•tinha autorização de Deus para tudo o que dizia e fazia (19,30);
•tinha poder para dar vida eterna (21,24,40);
•tinha o direito e a autoridade de julgar todas as pessoas, vivas e mortas (25-29).
Alguém que fizesse tais reivindicações devia ser "louco, mau, ou (realmente) Deus". Que evidências ele podia dar a seus adversários? Estas:
•o que Deus disse por ocasião do batismo de Jesus (37);
•o testemunho de João Batista (33-35);
•a evidência dos seus próprios milagres (36);
•as palavras das Escrituras do AT (39).
Moisés (45) Veja Dt 18.18. Jesus é o Profeta que Deus havia prometido através de Moisés.
Jo 6 Galiléia
Jo 6.1-21: Jesus alimenta mais de 5.000 pessoas; Jesus anda em cima da água
Veja notas em Mc 6.30-56. Veja também Mt 14.13-36; Lc 9.10b-17. Esses são o quarto e o quinto sinais que João (veja 2.1-11; 4.46-54; 5.1-9).
O dia em que Jesus alimentou a multidão ficou marcado na memória de João, e ele traz detalhes que não aparecem nos outros três relatos. Ele se lembrou dos discípulos que responderam a pergunta de Jesus; lembrou-se do menino que abriu mão da comida que havia trazido. E no relato de como Jesus foi até naquela noite, andando em cima da água, lembrou-se da distância que já tinham remado quando viram Jesus.
Páscoa (4) Essa é a segunda Páscoa mencionada em João (veja 2.13). Um ano depois, na Páscoa seguinte, Jesus seria morto (11.56; 12.1).
Jo 6.22-59: "Eu sou o pão da vida"
Na sinagoga em Cafarnaum (59), Jesus tomou o pão como ponto de partida para uma lição mais profunda.
A multidão queria um Messias que sempre pudesse dar comida de graça (26,34). Ninguém pode viver sem alimento. Mas Jesus veio dar um "pão" que satisfaz mais do que as necessidades físicas. Ele é o pão que Deus dá, aquele que veio dar vida ao mundo (33). Quem crê nele jamais terá fome (35).
Paradoxalmente, por ter dado a sua própria vida é que Jesus pode dar aos outros uma vida "para sempre" (51). Para receber essa vida, é necessário aceitar o sacrifício que ele fez (52-58). Na última ceia, Jesus deu expressão visível a essa mesma verdade (Mt 26.26-28).
Maná (31) Veja Êx 16 e Dt 8.3.
Jo 6.60-71: A reação
Aqueles que deram uma interpretação estritamente literal às palavras de Jesus ficaram enojados. A lei proibia beber sangue. A carne tinha que ser sacrificada de acordo com as exigências da Lei. Mas, se tivessem levado a sério o motivo por que essa regra havia sido dada, eles teriam entendido as palavras de Jesus. Lv 17.11 diz: "porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida". Assim, Jesus estava dizendo: "Eu estou fazendo expiação pelos seus pecados; tirem proveito deste meu sacrifício".
Muitos dos seus seguidores o abandonaram: não queriam esse tipo de Messias. Mas os Doze ficaram com ele, e cresciam na fé. Pedro falou em nome de todos: "Senhor... Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (68). Porém um deles ia trair Jesus (70-71).
Jo 7 Rumo a Jerusalém para a Festa das Barracas
Jo 7.1-13: Perigo
A visita anterior a Jerusalém havia sido tudo menos tranquila: terminou com uma conspiração contra Jesus (cap. 5). Na Judéia, Jesus ainda corria riscos, pois os líderes judeus queriam matá-lo. No entanto, a sua "hora" (a hora em que ele seria morto) ainda não havia chegado, e por isso ele evitou aparecer em público.
Os judeus (1,13) Veja Introdução.
Tabernáculos/Barracas (2) Esta festa, que durava oito dias, era celebrada em setembro/outubro. Era a festa da colheita, e nela também era lembrada a peregrinação do povo no deserto. Veja "As grandes festas religiosas"
Irmãos (3,5) Veja MT 13.55-56.
Por enquanto, não subo (8, ARA)
Outros manuscritos gregos trazem "eu não subo" (veja NTLH).
Jo 7.14-52: Diferentes reações
Mais uma vez, a reação não foi unânime, e os guardas enviados para prendê-lo voltaram de mãos vazias, para irritação das autoridades farisaicas. Aquela plebe podia não saber nada da lei (49), mas Nicodemos sabia. Contudo, não lhe deram ouvidos (50-52). Em seu discurso no último dia da festa (37-38), Jesus se valeu de ilustrações tiradas das cerimônias previstas para os primeiros dias da festa, quando água trazida do tanque de Siloé era oferecida a Deus. As palavras de Jesus ecoam Is 55.1: "Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas", e chamam o povo de volta a deus. Jesus fala sobre uma fonte borbulhante que vivifica e transforma corações humanos sedentos.João explica que ele "estava falando a respeito do Espírito" (39).
V. 15 Jesus não foi treinado como rabino para interpretar a lei.
Um só feito realizei (21) A cura do homem junto ao tanque de Betesda ( 5.9).
Dispersão (35, ARA) Os judeus que moravam no estrangeiro, em cidades gregas ou de maioria gentílica.
V. 42 É pouco provável que tinham ouvido a história do nascimento de Jesus. A referência do AT é Mq 5.2.
Jo 7.53
Embora essa história provavelmente seja genuína, é improvável que, originalmente, se encontrasse neste lugar, no Evangelho de João (alguns manuscritos a colocam no final do Evangelho de João; outros a inserem após Lc 21.38). Os mestres da Lei estavam armando uma cilada para Jesus. Queriam forçá-lo a se colocar contra a Lei de Moisés ou, então, a desafiar as autoridades romanas, que não permitiam que os judeus aplicassem a pena capital. Mas Jesus não fez nem uma coisa nem outra: não condenou, tampouco desculpou a conduta da mulher. Ele lhe deu uma nova chance.
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Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11