A Bíblia foi escrita há muito tempo para pessoas que viviam numa cultura diferente da nossa.
Os estágios de compreensão e aplicação que aparecem nestas páginas nos ajudam a evitar erros como:
• tirar um trecho do contexto. A Bíblia não é uma caixinha mágica!
• fundamentar uma doutrina num versículo que foi mal interpretado - como acontece frequentemente com seitas e movimentos heréticos.
• dizer que ela é muito distante e difícil para leigos: não é!
• lê-la apenas como literatura ou geografia ou história: ela é isto, mas também é mais do que isso: é a mensagem mais importante de todas.
• lê-la como mágica, ou fábulas, ou contos de fadas... a Bíblia foi escrita por pessoas em situações reais conforme eram inspiradas por Deus.
Dicas para entender
A Bíblia não é o que a maioria de nós espera de um livro religioso ou texto sagrado.
Em primeiro lugar, ela é mais uma biblioteca que um único volume. Ela abrange histórias, parábolas, leis, orações, poemas, cartas, visões, profecias e outros tipos de literatura. Estas não são obra de um único autor, mas de uma variedade de autores humanos que escreveram em mais de um continente, viveram em mais de um milênio e falaram em mais de uma língua.
Assim, esta "mensagem de Deus" é diferente do que algumas outras religiões acreditam ter.
A maior parte da Bíblia não afirma ter sido "ditada" por Deus. Ela nem sempre é Deus falando para o povo. Pode ser o povo falando com Deus, como nos Salmos. Ou pode ser pessoas falando para pessoas, como nas cartas do Novo Testamento escritas por Paulo.
Deus fala através de pessoas
Em toda a Bíblia Deus fala por intermédio de pessoas. Isto significa que entender as pessoas pode nos ajudar a entender a Bíblia.
Se, por exemplo, você sabe o que significa sentir dor, ficar com raiva, estar deprimido, ter alegria, amar, prestar culto, entenderá e poderá se identificar com muitos dos salmos.
Se você puder se colocar na situação de um líder de igreja que se preocupa com a sua congregação, ou de um membro da igreja que é repreendido pelo pastor, isto o ajudará a compreender as cartas do Novo Testamento, que foram dirigidas às primeiras igrejas cristãs.
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Que tipo de livro é esse?
Para entender determinado livro da Bíblia, precisamos descobrir que tipo de material estamos lendo.
Se recebemos quatro correspondências, leremos cada uma à luz do que é - uma propaganda, uma conta, uma carta de amor ou uma carta contendo uma oração.
Se as correspondências vêm da nossa própria cultura, sabemos instintivamente como lê-las. Se vêm de outra cultura, é mais provável que as entendamos mal. Podemos até acreditar na propaganda quando lemos: "esta é uma oferta especial feita só para você!"
Os livros da Bíblia vêm de culturas diferentes da nossa. Assim sendo, como podemos entendê-los?
Normas diferentes se aplicam a tipos diferentes de literatura. Entretanto, mais da metade da Bíblia é história, e então é por aí que vamos começar.
A natureza da história bíblica
Precisamos ter três coisas em mente para entendermos os livros históricos da Bíblia.
•Em primeiro lugar, a maioria deles tem um interesse pelos fatos. Isto os aproxima bem mais da história do que da ficção.
A fé cristã é fundamentalmente um "evangelho" - uma mensagem de boas novas da parte de Deus. Ela diz às pessoas, por meio da história de Israel e dos relatos da vida de Jesus, o que Deus fez por elas, na convicção de que estas coisas são decisivas para a maneira como as pessoas se relacionam com Deus. Se Deus jamais houvesse feito algo em benefício de Israel ou em Jesus, não haveria evangelho. Assim, os fatos são essenciais para que se entenda a Bíblia.
Mas não devemos impor à Bíblia nossas próprias expectativas quanto à sua natureza histórica. A história bíblica é uma combinação divinamente inspirada de fatos e criatividade literária.
O fato de que a história da Bíblia está ligada à natureza da fé cristã como "evangelho" tem outra explicação.
As pessoas são, muitas vezes, tentadas a ler a história da Bíblia principalmente para tirar exemplos de como devem viver. Mas se o objetivo da história bíblica fosse simplesmente inspirar-nos dessa maneira, ela teria sido outro tipo de história. Muitas vezes, parece que os personagens da Bíblia nos mostram os dois lados: como se leva uma vida fiel e dedicada a Deus, e como não se deve ser povo de Deus.
Isto em si reflete o fato de que a história da Bíblia tem mais a ver com o que deus fez com as pessoas do que com aquilo que as pessoas fizeram. Os eventos ocorrem apesar das pessoas tanto quanto por intermédio delas.
Assim, ao lermos a história da Bíblia, devemos ter uma pergunta em mente:
"O que Deus está fazendo aqui, e como, e por quê?"
•Uma segunda característica das histórias bíblicas, como de qualquer história, é que ela é escrita para um público.
Por exemplo, os livros de Samuel e Reis, de um lado, e Crônicas, de outro, nos dão duas versões da história de Israel no período dos reis. São versões diferentes da mesma história, porque elas foram escritas para públicos em situações diferentes:
-Israel sob o castigo de Deus após a queda de Jerusalém
-e Israel um século mais tarde, quando de certa forma Deus o havia restaurado.
Essas duas comunidades precisavam que lhes fossem apresentadas perspectivas diferentes da mesma história.
Se entendermos para quem o livro foi escrito, apreciaremos o motivo pelo qual a história é contada daquela maneira e entenderemos melhor o que ele procura transmitir.
•Uma terceira característica de uma história bíblica é que ela é história, com todas as características de uma boa história.
Tem começo, meio e fim e um enredo cheio de surpresas (a história de José ou de Jesus, por exemplo).
Os livros do NT foram escritos para públicos diferentes usando
palavras e conceitos conhecidos por eles:
- Pessoas "no mercado", à medida que as histórias sobre Jesus e a mensagem cristã se difundiam.
- Judeus religiosos
- Romano
- Pessoas de fala grega no mundo helenista que havia colonizado grande parte daquela região - como a cidade de Jerash, na atual Jordânia.
- Pensadores e filósofos, como aqueles que debateram com Paulo em Antenas.
Ela tem personagens: alguns personagens são tão complexos quanto nós mesmos e outras pessoas que conhecemos, ao passo que outros personagens menos expressivos não chegamos a conhecer tão bem (a história de Rute é um exemplo).
A história tem um tema (Juízes, por exemplo, fala sobre ligação entre sexo e a violência). Uma história interessante pode ter mais que um tema (a de Jonas é sobre como não ser um profeta, e também sobre como Deus se preocupa com os gentios, e possivelmente também fala sobre como Deus chama Israel ao arrependimento).
Assim, ela precisa ser apreciada e compreendida como uma história. Isto implica várias coisas:
Uma história precisa ser lida como um todo, não apenas em pequenos episódios, como geralmente acontece nos cultos e nas leituras diárias.
Devemos nos deixar levar para dentro da história. Interpretar a Bíblia requer o exercício da nossa imaginação.
Isto não significa que devemos impor à Bíblia nossas próprias idéias, embora façamos isto inconscientemente. Às vezes isto não importa; a história pode até nos convidar a fazer isto. Afinal, um contador de histórias não conta (nem consegue contar) tudo, e sabe que aprendemos quando nos identificamos com a história. Mas é importante que não interpretemos a história com um significado que ela, em si, não tem.
Ler na companhia de outras pessoas ajuda a evitar estas coisas e também é útil de outras maneiras. Quando lemos a Bíblia com um grupo de pessoas e a discutimos com elas, ficamos mais próximos daquilo que seus autores tinham em mente, pois a prática da leitura e do estudo silencioso e individual é algo típico dos tempos modernos.
"Uma palavra de verdade pesa mais que o mundo inteiro." Alexander Solzhenitsyn
Grande parte da Bíblia Hebraica,
a Torá que estes rabinos estão lendo,
é instrução, ou seja, as regras
pelas quais Deus protege
a liberdade do seu povo.
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O que fazer e o que não fazer
Nas grandes histórias do Antigo e do Novo Testamento há longas seções de instrução sobre como viver.
Nem o Antigo nem o Novo Testamento estão interessados em obediência cega, assim que precisamos entender os motivos dessas instruções. Na verdade, a Bíblia geralmente dá essas instruções, embora sejam vistas como algo natural ou que não precisa de muita explicação. Isto porque seriam facilmente compreendidas na cultura da qual procedem ( por exemplo, o motivo pelo qual os israelitas do Antigo Testamento não deviam cozinhar um cabrito no leite de sua mãe, ou pelo qual as mulheres de Corinto no Novo Testamento deviam pôr um véu na cabeça quando estavam na igreja).
Precisamos nos esforçar para entender as questões que estão por trás dessas instruções, para entender como devemos tomar a atitude equivalente no nosso próprio contexto.
Podemos perguntar, por exemplo, qual era o objetivo dessas instruções. Que situação elas pressupunham? Que problema tentavam solucionar, ou que perigo queriam evitar? Que convicções teológicas e morais tinham como base?
Então podemos tentar descobrir se há problemas e perigos equivalentes que precisamos abordar de maneiras equivalentes.
No antigo Israel, por exemplo, as pessoas tinham que construir uma mureta ao redor do telhado (plano) das casas para que as pessoas não caíssem de lá. Em certas áreas das grandes cidades de hoje, lombadas eletrônicas ou redutores de velocidade podem ser uma forma semelhante de proteger a vida das pessoas.
Outro tipo de questão surge dos padrões diferentes das instruções que aparecem nas várias partes da Bíblia. Algumas parecem dar liberdade a mulheres e escravos, por exemplo; outras parecem aceitar sua opressão.
Aqui podemos ver os ideais de Deus em conflito com situações reais de forma bem prática.
Jesus, ao falar sobre casamento e divórcio, falou da tensão entre o que Deus queria na criação e o Moisés permitiu por causa da teimosia do povo (Mc 10).
Sua posição com relação a este problema específico pode ser aplicada de forma mais ampla. Portanto, a questão é: qual é o equivalente mais próximo do ideal de Deus, levando em consideração a teimosia humana neste contexto com relação a este problema?
Analisando o contexto
Já analisamos as histórias e instruções da Bíblia. Mas além delas temos os profetas do Antigo Testamento e as cartas do Novo. Estes, até mais que os outros livros, precisam ser compreendidos dentro do seu contexto histórico. Os primeiros versículos de uma profecia ou de uma carta geralmente tratam desta questão, descrevendo o contexto.
Assim, precisamos descobrir tudo que pudermos sobre (por exemplo) a vida em Judá no século 7 a.C., ou a vida em Éfeso no primeiro século da era cristã, para entendermos profecias e cartas escritas a comunidades desses lugares.
A forma de apresentar os profetas nos lembra que eles não estão falando sobre acontecimentos do Oriente Médio em nossos dias. O que eles dizem ainda é relevante hoje, mas descobriremos de que modo ao analisarmos como Deus estava falando por intermédio dos profetas a seus ouvintes imediatos.
Fazendo perguntas: ouvindo Deus falar
Com base no que dissemos sobre os profetas e as cartas, é claramente adequado fazermos perguntas. Estamos, dessa forma, envolvidos em "crítica bíblica", mas fazer perguntas não significa necessariamente que estamos criticando a Bíblia ou impondo a ela nossas próprias avaliações (como alguns estudiosos fazem). Fazer perguntas significa não fazer de conta que tudo é ponto pacífico; é buscar sempre entender a Bíblia nos termos da própria Bíblia e deixar que ela transmitir.
Quando fazemos isto, descobrimos que a Bíblia se dirige a nós. Ela é, como os cristãos costumam dizer, "a palavra de Deus".
Isto tem duas implicações importantes:
•Descobrimos que Deus diz coisas maravilhosas. Deus, afinal, é maravilhoso; e quando Deus fala, ele nunca é maçante ou chato. Deus constantemente nos surpreende e deixa maravilhados.
Aqueles que querem entender a Bíblia devem se preparar para ficarem surpreendidos, impressionados, ofendidos, perplexos e até mudarem completamente a maneira de ver o mundo.
•A palavra de Deus é eficaz. Quando Deus fala, coisas acontecem. Pela palavra de Deus (em Gn 1) o mundo é criado!
Quando pessoas lêem a Bíblia, coisas começam a acontecer. Elas se vêem de maneira diferente, descobrem que estão perdoadas e curadas, e são motivadas a fazer coisas novas.
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ResponderExcluirOlá. Que bom que tenha gostado. Obrigado por comentar! Graciosa paz. Volte sempre. Em elação ao link, não é permitido links para fora do site nos comentários devido as configurações da plataforma pelo administrador. Todavia, os visitantes pode copiá-lo e buscar em outra guia do navegador. Shalom!
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