O evangelho cristão se fez sentir no mundo com um impacto semelhante ao estrondo de uma trovoada. Seus pregadores tinham uma mensagem tão animadora e tão urgente que aproveitaram todas as oportunidades de transmiti-la, mesmo que isto lhes trouxesse dificuldades e sofrimento.
»Não era religião.
»Não era moralidade.
»Era uma história - a história da pessoa mais maravilhosa que o mundo já viu: Jesus de Nazaré.
A grande história - A história começou muito antes do nascimento de Jesus, quando Deus, o criador, fez a humanidade para conhecê-lo e desfrutar de sua presença. Mas a humanidade voltou as suas costas para Deus. Então Deus escolheu Abraão e sua família, que se tornaram o povo de Israel. Eles deviam mostrar a um mundo rebelde quem era o Deus verdadeiro, e o que ele tinha a oferecer à humanidade e esperava dela. Mas esta história não estava completa: faltava-lhe um final. O próprio povo escolhido para levar a restauração divina ao mundo precisava de resgate e restauração.
Os primeiros cristãos estavam todos convencidos de que a grande história do relacionamento entre Deus e os homens havia atingido o seu ponto alto na vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. Eles tinham a certeza de que ele era o Messias, alguém que não havia sido entendido pelos líderes judeus, levando-os a entregá-los às autoridades romanas para que fosse morto.
Além disso, estavam convencidos de que esse Jesus não era apenas o Messias que o povo judeu havia esperado por tanto tempo, mas o próprio Senhor Deus que tinha vindo como um homem para resgatar, não só os judeus, mas toda a humanidade, dos terríveis resultados da nossa rebelião.
Sua morte resolveu o problema da culpa em que todos nós incorremos.
A vida do Cristo ressuscitado supria o poder para a mudança de vida, a presença ao longo da jornada através deste mundo, e a garantia de vida com Deus depois da morte.
Uma nova era - Os primeiros cristãos entendiam que estavam vivendo no início de uma nova era que havia raiado quando Jesus ressuscitou dos mortos, naquela manhã de Páscoa. Por causa disso, viam tudo de forma diferente.
Esforçavam-se ao máximo para entender melhor esse Jesus (através do estudo do AT, que ele havia cumprido) e torná-lo real para pessoas que nunca haviam se encontrado com ele. O cerne de sua proclamação era o Cristo Ressurreto, aquele que muitos deles haviam conhecido pessoalmente e a quem haviam seguido durante vários anos, quando ele era um carpinteiro e rabino.
A mensagem essencial - Através de cuidadosa análise do livro de Atos, dos Evangelhos e das Cartas, chegou-se à conclusão de que esses primeiros cristãos tinham um modelo de proclamação que era mais ou menos uniforme. Era mais ou menos assim:
As antigas profecias se cumpriram, e a nova era raiou com a vinda de Jesus, o Messias.
Ele era descendente de Davi e morreu na cruz, segundo as profecias das Escrituras, para nos libertar deste mundo perverso.
Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como as Escrituras haviam previsto. Agora ele está exaltado à direita de Deus como Cristo (Messias) e Senhor dos vivos e dos mortos.
Ele deu o seu Espírito Santo aos seus seguidores como garantia do seu senhorio, e como primícias da sua volta para ser o Juiz e Salvador da humanidade no dia do juízo.
Este padrão de proclamação se desenvolveu bem cedo. Ele aparece nos sermões em Atos, em Rm 1.3-4, em 1Co 15.3-4 e em 1Tm 3.16. Os próprios Evangelhos trazem uma boa parte do conteúdo evangelístico dos primeiros sermões: esse material foi pregado antes der ser escrito. Fp 2.4-11 é um texto bem antigo, provavelmente derivado da igreja de fala aramaica, porém é tão desenvolvido em sua doutrina quanto o restante do NT. A ênfase principal da mensagem dos cristãos era a mesma para todos eles, e isso desde o princípio.
Falar de Jesus às pessoas - É claro que essa proclamação não tinha um caráter rígido ou inflexível. Os pregadores começaram ali onde o povo estava:
»um oficial romano cínico
»um mendigo
»um pequeno grupo de judeus reunido à margem de um rio.
No entanto, como fica claro a partir da análise dos discursos em Atos, eles não ficavam somente nisso, mas falavam ao povo a respeito de uma pessoa, Jesus.
Tinham um presente a oferecer. Na verdade, dois presentes que não podiam ser encontrados em nenhum outro lugar: perdão pelo passado e o dom do Espírito Santo.
Depois pediam uma resposta: arrependimento e fé, batismo de ingresso na comunidade cristã, e recepção do Espírito Santo.
Públicos diferente - Quando pregavam aos judeus, os primeiros cristãos se baseavam em grande parte na herança que tinham em comum com eles, o Antigo Testamento, e proclamavam que Jesus era o cumprimento das promessas e da esperança do AT. Jesus trouxe libertação da culpa decorrente da desobediência às leis de Deus. Assim, o que se enfatizava era justificado, perdão, purificação.
Quando pregavam ao pagãos, enfatizavam a libertação aos poderes demoníacos, dos quais as pessoas do mundo antigo estavam bem cientes.
Assim, para os judeus mostravam que Jesus era o Cristo, o Messias Libertador, o clímax da revelação do AT.
Aos pagãos ele era apresentado como aquele que era vitorioso sobre as forças do mal, que havia trazido à luz a vida e a imortalidade.
Quando pregavam aos gentios que não tinham nenhum conhecimento do AT, os primeiros missionários retrocediam ainda mais, mostrando que há somente um Deus verdadeiro e que era tolice acreditar em ídolos, uma prática bem comum naquela época.
O livro de Atos traz dois exemplos do método que adotavam: um com pessoas simples (At 14.15-17) e outro com pessoas cultas (17.22-31). Nos dois casos eles apontaram para a existência de um só Deus verdadeiro, Criador e Mantenedor de tudo, e esta revelação natural pregava o caminho para a mensagem especificamente cristã que vinha logo a seguir.
Esse procedimento fora adotado pelos judeus no século anterior ao NT, na tentativa de apresentar o monoteísmo ético de Israel a um mundo pagão imerso em imoralidade e idolatria, mas que não encontrava, nisto, qualquer satisfação. Era em enfoque apropriado para a apresentação do evangelho, e continuou sendo uma estratégia padrão durante muitos séculos.
Versatilidade - Os primeiros cristãos se mostravam versáteis na maneira de tornar Cristo conhecido. Atos dos Apóstolos mostra os cristãos pregando nas ruas, nas sinagogas e no templo, na prisão, em debates, em visitas, no contexto de obras de amor cristão, e especialmente nas casas.
Reuniões nas casas foi o grande segredo para a expansão do evangelho durante os três primeiros séculos, quando os cristãos não tinham liberdade para construir prédios e igrejas. Impressiona o zelo, o espírito de sacrifício e as iniciativas criativas desses primeiro evangelistas!
Além disso, Atos deixa claro que profundidade havia chegado a pregação naqueles primeiros tempos. São usadas palavras que dão a entender que os cristãos agiam como arautos, mestres e debatedores. Eles discutiam o evangelho, defendiam-no, davam testemunho da sua eficácia, e mostravam como ele condizia com as Escrituras do AT.
Mulheres anunciavam o evangelho enquanto lavavam roupa na companhia de outras mulheres, filósofos discutiam o evangelho nas esquinas, prisioneiros falavam dele a seus companheiros. Pessoas de todas as culturas e origens demonstravam o poder desse evangelho numa vida transformada (veja 1Co 6.9-11) e na alegre aceitação do sofrimento e da morte (p.ex. At 20.22-24).
Essas eram as qualidades que recomendavam a nova mensagem. Ao mesmo tempo, o poder do Espírito de Deus na vida pessoal e comunitária desses cristãos comprovava as suas reivindicações.
Nada podia mantê-los calados. Eles haviam encontrado o segredo da vida, e por isso tinham de falar.
Criando pontes - Ao fazerem uma interpretação da pessoa do seu Mestre, usavam linguagem e pensamentos conhecidos pelos seus ouvintes.
Se o conceito de "reino de Deus", tão conhecido no contexto judaico daquele tempo, parecia politicamente suspeito num contexto gentílico, eles falavam sobre a "vida eterna", que tinha mais ou menos o mesmo significado e era um conceito facilmente compreendido pelos pagãos.
Há muitos exemplos desse dom que eles tinham de traduzir palavras e conceitos sem que perdessem sua força original, mas nenhum se comparava com os primeiros catorze versículos do Evangelho de João. Aqui, a mensagem cristã da encarnação é apresentada numa linguagem que se aproxima do estoicismo, para quebrar o gelo num contexto grego.
Em Cl 1.15-20, Paulo faz uso da linguagem dos seus oponentes incrédulos, mas dá aos termos que eles usavam um significado cristão.
O discurso em Atenas (At 17.16-31) é um brilhante exemplo da apresentação da mensagem cristã ortodoxa em linguagem essencialmente ateniense, com alusões à literatura clássica, e não a textos do AT.
Em todo esse processo de "tradução" o objetivo permaneceu inalterado: proclamar com clareza a obra singular de salvação realizada por esse Jesus divino, crucificado e ressurreto dentre os mortos. Ele era tanto o Senhor a quem serviam quanto a mensagem que, de forma incansável, proclamavam a todos.
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Filipenses 1:9-11