A SENSIBILIDADE DE JESUS
O corpo de Jesus, já dissemos, era de uma perfeição extraordinária que o tornava sensível à dor, às emoções e às pessoas.
Ao recapitular os escritos evangélicos, observa-se que ele experimentou todos os nossos sentimentos, alegres ou tristes, doces ou amargos, e em especial a dor. Apesar disto, acontecesse o que acontecesse, no fundo de sua alma reinavam sempre a serenidade e a alegria. A paz que ele se comprazia em desejar aos seus apóstolos (Lc 24.36; Jo 14.27; 20.19,26), ele a possuiu plena e continuamente. Ainda que algumas vezes os evangelistas declarem que ele sentiu certa turbação, era sempre inteiramente dono de si (mesmo no Getsêmani, onde tão profundas foram as emoções do Filho de Deus. Ver Mt 26.36-46; Mc 14.32-42; Lc 22.39-46).
Em uma circunstância particular, João expressou essa turbação por meio de uma linguagem bem significativa: [Jesus] moveu-se muito em espírito e perturbou-se (Jo 11.33b). Mas nunca vimos suas emoções o dominarem nem fazê-lo desistir de sua missão (Jo 12.27,28). Suas emoções lhe estavam sujeitas, como todo o seu ser. Apesar de sua natureza humana, com seus afetos, afeições e "paixões", ele se conduzia sempre de maneira nobre e santa.
Voltemos, porém, à admirável serenidade de seu espírito. Era esta uma de suas qualidades que mais se destacavam. Seguro de si mesmo e de sua missão, Jesus nunca manifestou dúvida nem embaraço. Ele caminhou diretamente, sem vacilar, até seu alvo, pois conhecia os desígnios de seu Pai celestial, que lhe traçou o rumo em todas as ocasiões. Nunca também percebemos nele pressa excessiva, precipitação ou agitação impaciente; sua tranquilidade era inalterável. Os seus cruéis inimigos podiam fustigá-lo, espiá-lo, opor-se a ele, acusá-lo, querendo por todos os meios ao alcance deles levá-lo a perder o controle e a desistir, mas Jesus não se deixou dominar pelo medo, não perdeu o foco, e venceu.
Nas catacumbas, há uma inscrição que descreve exatamente como Jesus andava em todas as circunstâncias: com doce alma e em paz. Tão inteiro e constante era o seu domínio sobre si mesmo que, em qualquer ocasião, ele sabia permanecer senhor de suas palavras e de seus atos.
Lembremo-nos da tempestade do lago de Genesaré, tão violenta que, apesar de os apóstolos, em sua maioria, serem pescadores profissionais e terem experimentado mais de uma vez o furor das ondas, fê-los tremer. Enquanto a tempestade rugia, Jesus dormia tranquilamente na proa do barco levantado pelas ondas. Quando eles, sobressaltados, despertaram-no, Jesus se levantou sem pressa, repreendeu-os carinhosamente por causa de sua falta de fé e, com o poder e a majestade divinos, fez a terrível tempestade cessar (Mt 8.24-26; Mc 4.37-39; Lc 8.23-25).
Nem os endemoninhados, que interrompiam as pregações de Jesus (Mc 1.22-26; Lc 4.33-35), nem seus adversários, quando o insultavam grosseiramente ou quando tentavam pôr suas mãos brutais nele (Mt 9.3; Lc 7.49; 11.45; 13.14; Jo 7.20), conseguiram fazer o Mestre perder sua tranquilidade. Se, por prudência, ele se ocultou momentaneamente, pois não tinha direito de adiantar a hora que seu Pai havia fixado para o seu sacrifício, não o fez por medo; tinha perfeita paz (Mt 15.21; Mc 7.24; Jo 7.1).
Ninguém pôde fazer Jesus perder seu equilíbrio emocional. Em meio ao perigo e ao espanto de seus discípulos, ele cumpriu, com toda a calma, o seu dever total (Lc 13.32; Jo 11.7-10). Sua vida pública transcorreu cheia de momentos difíceis, inquietantes, perigosos, porém Jesus deslizou como um rio de tranquilas águas, que flui mansamente entre suas margens sem transbordar, e com todo o sossego se encaminha até o oceano.
As influências externas jamais puderam levantar na alma de Jesus algum tipo de agitação. As aclamações populares não o afetaram mais do que a ingratidão dos homens. Não é que ele não sentisse nada com relação a estas coisas; mas sua alma estava sempre muito acima das situações. Em sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus se mostrou tão dono de si como quando esteve perante o Sinédrio, Pilatos e Herodes. Nem o Hosana ao Filho de Davi nem os gritos da turba perante o pretório abalaram sua confiança. Podemos comprovar isso em muitas outras ocasiões, como na resposta do Salvador às ameaças do tetrarca Herodes Antipas (Lc 13.32,33) e ao orgulhoso Pilatos (Jo 19.11). Vemos a calma tranquila com que o Cordeiro de Deus lidou com os seus carrascos (Mt 26.45-46); a paz com que ele exalou seu último suspiro, apesar da amargura que causava à sua alma o aparente abandono do Pai (Mt 27.45,46).
Contudo, existem passagens em que vemos Jesus legitimamente indignado, pronunciando palavras de repreensão e ameaçadoras (Mt 9.30; 11.20-24; 16.23; 21.19; 23.1-39; Mc 1.25; 8.33; 9.19; 10.14; 11.14; Lc 4.35; 9.55; 11.33-52 13.15). Ele chegou a aberta repreensão, expulsando os vendedores que profanavam o templo (Mt 21.12-13; Lc 19.45-46; Jo 2.14-17). O seu zelo pela glória de Deus ardia, e ele tinha aversão ao pecado e à hipocrisia. Por isto, nem mesmo os seus discípulos deixaram de ser repreendidos pelo Mestre quando erravam; eles tinham sido chamados para a santidade. Mas sempre que Jesus permitiu que suas emoções falassem alto por alguns instantes, ele o fez deliberadamente e com um propósito em mente. Ele tinha sempre os seus sentimentos sob eficácia vigilância e controle.
O Salvador experimentou também, sobretudo no Getsêmani e no Calvário, o medo que deprime, o horror que estremece o coração, a tristeza que gera o desânimo. Que angústia entrevemos quando escapou de seus lábios o lamento: A minha alma está cheia de tristeza até à morte (Mt 26.38)! Os escritores sagrados expressam com palavras fortes estas pungentes emoções (ver Mt 26.37; Mc 14.33; Lc 22.43). Por exemplo, um pouco antes de expirar, Jesus Cristo lamentou-se com este grito angustioso, que revela seu terrível sofrimento: Eli, Eli, lamá sabactani, isto é, Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? (Mt 27.46b)
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Filipenses 1:9-11