A religião judaica na época do Novo Testamento
Jesus é judeu. A igreja cristã começou na Palestina, e seus primeiros membros eram judeus. Para entender o NT, precisamos ter algum conhecimento da religião judaica da época de Jesus. (Click na foto ao lado para ler mais sobre os judeus sob o governo romano)
Os últimos profetas do AT viveram 400 anos ou mais antes de João Batista entrar em cena. E desde aquela época a religião judaica não ficou sendo exatamente a mesma. A religião clássica do Israel do AT evoluiu e veio a ser o que chamamos de judaísmo.
No primeiro século da era cristã, havia judeus em todas as partes do mundo romano e até mesmo fora dele. Aqui iremos nos ater aos judeus da Palestina.
Algumas importantes instituições do judaísmo:
O Templo O grande Templo de Salomão fora destruído pelos babilônios em 587 a.C. Após o exílio, os judeus que retornaram a Jerusalém reconstruíram o Templo. Tratava-se de um edifício menos impressionante, que ficou de pé durante 500 anos. Herodes o Grande decidiu substituí-lo por um magnífico templo novo, que se tornou uma das sete maravilhas do mundo antigo. A obra foi iniciada 19 a.C. e ainda não havia sido concluída na época de Jesus (Jo 2.20). Acabaria ficando pronta em 64 d.C., mas seis anos depois o Templo foi destruído pelos romanos.
Foi este imponente complexo de construções que deixou os discípulos de Jesus admirados (Mc 13.1). Ali ainda eram oferecidos os sacrifícios e se realizava o culto que havia sido instituído muito antes. Aquele era de ação dos sacerdotes e de seus auxiliares. Mas, é claro, tudo isso acontecia sob o olhar vigilante dos soldados romanos, que estavam aquartelados na fortaleza Antônia, de onde podiam avistar os pátios do Templo (At 21.31-40). Os prédios do Templo em si ficavam separados do grande pátio externo, o "pátio dos gentios", por uma mureta na qual havia várias inscrições que proibiam os gentios de ir além daquele ponto. Quem o fizesse, corria o risco de ser morto (veja At 21.28-29; Ef 2.14).
Quando os Evangelhos descrevem Jesus ensinando e ministrando "no Templo", falam de algo que normalmente ocorria nessa ampla área pública, onde os mestres se instalavam nos pórticos cobertos e o povo se reunia para ouvir e fazer perguntas. Nesse mesmo pátio também funcionava, durante as festas, o movimentado mercado de animais para os sacrifícios e estavam instaladas as bancas dos cambistas (que tinham o dinheiro sagrado para ofertas no Templo), situação que tanto irritou Jesus.(Mt 21.12).O Templo não era apenas um lugar de adoração. Era um símbolo de identidade judaica e orgulho nacional. Uma das principais razões por que Jesus e os seus seguidores se tornaram malvistos foi que eles eram considerados inimigos do Templo (Mt 26.61; 27.40; At 6.13-14).
A sinagoga Havia apenas um Templo, mas cada comunidade tinha a sua sinagoga. Ali não se ofereciam sacrifícios. Era o centro local de culto e estudo da Lei. No sábado, a comunidade se reunia, homens e mulheres separados, para ouvir a leitura e exposição de determinadas passagens da Lei e dos Profetas (Lc 4.16-21) e fazer orações litúrgicas. Durante a semana, a sinagoga era a escola local, o centro comunitário e o núcleo do governo local. Seus líderes eram as autoridades civis da comunidade, os magistrados e guardiões da moral pública.
Lei e tradições Israel tinha uma lei desde a época de Moisés. Mas depois do exílio e da destruição do Templo, Esdras (no século 5 a.C.) liderou um movimento de estudo intensivo da Lei, e os judeus se tornaram cada vez mais "o povo do livro".
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A verdadeira intenção de Jesus
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Você sabe o que Ele realmente quis dizer?
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Durante o breve período em que Jesus ministrou publicamente para os judeus da Galileia, Ele disse muitas coisas que não foram fáceis de ouvir. Seus ensinamentos éticos eram difíceis de aceitar. Sua visão do Reino dos Céus era revolucionária. Mas, através de tudo isso, Sua devoção à Torá permaneceu firme. Para tranquilizar os Seus ouvintes a respeito disso, Ele proferiu um pensamento muito famoso e mal-entendido. |
Jesus e a menor letra
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O que é?
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Qual foi a intenção de Jesus?
Jesus era judeu e pregava para um público judeu. Embora Ele fosse amado por muitos, alguns de Seus seguidores judeus estavam preocupados que Ele estivesse preconizando a erradicação da Torá e a criação de uma nova aliança em seu lugar. Essa nunca foi a intenção Dele. No Sermão da Montanha, Jesus assegurou aos Seus discípulos que, apesar do conteúdo revolucionário de alguns de Seus ensinamentos, Ele não tinha nenhuma intenção de "abolir a lei ou os profetas".
Nem um iota
Jesus disse que "de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra" (Mateus 5:18). O texto original em grego do Evangelho de Mateus diz "nem um iota". A letra grega iota é derivada da letra hebraica yod. Seu nome se originou na palavra hebraica yad (יד), que significa "mão", porque tem a forma de um dedo mindinho. Yod é tão pequena que os antigos escribas às vezes a deixavam de fora das palavras para economizar espaço.
Veja o estado de espírito hebraico
O público de Jesus falava hebraico e teria compreendido de imediato a Sua colocação: a yod é a menor (e aparentemente mais trivial) letra no alfabeto hebraico. Assim, "não desaparecerá da Lei a menor yod" significa "nem mesmo o menor detalhe será eliminado da Torá".
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Este estudo detalhado gerou um conjunto de tradições, ainda em desenvolvimento na época de Jesus, que procurava detalhar melhor como a Lei devia ser seguida. Os escribas, que eram os estudiosos profissionais e guardiões da Lei e das tradições, elaboravam regras exatas para todas as ocasiões
Havia, por exemplo, 39 tipos de trabalho proibidos no sábado, e um deles ( transportar um objeto de um lugar a outro) foi ampliado a ponto de levar à proibição de quase toda e qualquer atividade. Viagens eram limitadas a uma "jornada de sábado", cerca de 1 Km (At 1.12).
O ensinamento dos escribas pretendia ajudar o povo a obedecer à Lei, mas infelizmente, como as palavras de Jesus a respeito dos escribas indicam, às vezes o zelo pelos detalhes ofuscava as questões fundamentais da Lei (Mc 7.1-13; Mt 23.23).
As marcas de um judeu A necessidade de sobreviver diante de hostilidades e perseguição levou os judeus a valorizar aqueles aspectos da Lei que os distinguiam como povo de Deus. Três "sinais de identidade" se tornaram muito importantes: circuncisão, observação da lei do sábado, e as leis alimentares (baseadas em Lv 11 e na ordem de não comer sangue) que impediam os judeus de tomar uma refeição normal com os não judeus. Um dos maiores problemas enfrentados pelos primeiros cristãos foi definir como seguidores de origem judaica e de origem gentílica poderiam ser integrados numa mesma comunidade (leia At 10.1--11.18; At 15.1-29).
Partidos e movimentos do judaísmo do século 1
Os fariseus Os leitores dos Evangelhos tendem a pensar que fariseu é sinônimo de hipócrita, mas não era este o conceito que a maioria dos judeus tinha a respeito dos fariseus. Eles eram os puristas em questões religiosas , extremamente dedicados à preservação e observância da lei e interessados em incentivar os outros a fazerem o mesmo. À luz disto, eram judeus exemplares (Fp 3.5-6) e eram muito respeitados. A maioria dos escribas pertencia ao partido farisaico, e eles foram os responsáveis pelo rico desenvolvimento das tradições legais mencionado acima.
Seu zelo pela observação meticulosa da lei (principalmente em questões de pureza ritual na alimentação) limitava seu contato social com judeus menos escrupulosos, e podia levar a um senso de superioridade com relação à "plebe" (Jo 7.49). Esta separação, bem como a tendência de dar mais valor à exata observação de ritos do que a princípios amplos como o amor e a misericórdia, fez com que entrassem em conflito com Jesus. Ele não questionou a ortodoxia deles; apenas os acusou de terem uma visão equivocada a respeito do que significava servir a Deus, assim que o esforço deles por definir as exigências da lei, por mais bem intencionado que fosse, acabava dificultando as coisas para as pessoas simples.
O número de fariseus provavelmente não era grande, mas a sua influência era marcante. Foram os fariseus que determinaram as diretrizes para o desenvolvimento do judaísmo após a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Eles imprimiram no judaísmo uma ênfase continuada na piedade individual, em padrões éticos rígidos, bem como na observação ritual.
Os saduceus Os saduceus formavam o outro partido importante da época de Jesus, embora sua influência já estivesse em declínio. Eram oriundos de famílias ricas, em geral os grandes proprietários de terras. Os principais sacerdotes eram, em grande parte, saduceus, e o sumo sacerdote era escolhido dentre eles. Controlavam a organização do Templo, e eram, também, o partido majoritário no Sinédrio (o conselho superior dos judeus), onde eles e os fariseus frequentemente tomavam posições opostas (At 23.6-10).
Sua posição teológica era conservadora, não aceitando nenhuma revelação além dos cinco livros de Moisés (Gênesis a Deuteronômio). Assim, eles rejeitavam crenças mais recentes aceitas pelos fariseus, como imortalidade, ressurreição, anjos e demônios (Mc 12.18; At 23.8). Sendo uma minoria aristocrática, não tinham tanto apoio popular quanto os fariseus.
Os essênios Este grupo, a respeito do qual, no passado, não se tinham muitas informações, passou a receber uma atenção toda especial a de 1947, com a descoberta dos rolos do mar Morto. Estes rolos pertenciam à biblioteca da comunidade de Qumran, uma seita "monástica" dos essênios que vivia em isolamento voluntário no deserto que fica próximo ao mar Morto. A seita foi fundada pelo desconhecido "mestre da justiça" por volta de 165 a.C., e sobreviveu até 68 d.C., quando foi destruída na revolta judaica (contra os romanos). Eles se consideravam o verdadeiro povo de Deus, e os outros judeus, inclusive o sistema do Templo em Jerusalém, eram vistos como inimigos. Isolados no deserto, eles aguardavam a vinda dos dois Messias (o Messias sacerdotal de Arão e o Messias real de Israel) e a grande batalha final entre os filhos da luz e os filhos das trevas. Quando esse dia chegasse, Deus aprovaria o testemunho fiel da comunidade e restauraria o verdadeiro santuário.
Enquanto isto, eles se ocupavam com o estudo diligente das Escrituras, seguiam uma rígida disciplina monástica, guardavam a lei com maior rigor ainda do que os fariseus, amavam uns aos outros e odiavam os de fora. Produziram comentários bíblicos elaborados, aplicando cada frase das passagens do AT a sua própria situação e expectativa.
Nem todos os grupos essênios adotavam o mesmo estilo de vida separatista da comunidade de Qumran. No entanto, os documentos de Qumram dão claros indícios de que havia um tipo de judaísmo apocalíptico e asceta que representava uma alternativa em relação aos tipos mais conhecidos dos fariseus e saduceus.
Os zelotes Enquanto fariseus e saduceus tentavam conviver com o governo romano, e os homens de Qumran sonhavam com a poderosa intervenção futura de Deus, muitos judeus não estavam dispostos a esperar. Em 6 d.C., por ocasião de um recenseamento romano com vistas á cobrança de impostos, Judas, o Galileu, liderou uma importante revolta (At 5.37) que serviu de instrução a futuros grupos de rebeldes, geralmente rotulados de "zelotes". É possível que Barrabás, aquele "salteador" que estava preso por ocasião do julgamento de Jesus, fosse o líder de um desses grupos. Os romanos suprimiram vários levantes anteriores, mas a grande revolta judaica provocada por zelotes em 66 d.C. resultou na destruição de Jerusalém em 70 d.C. Na melhor das hipóteses, os zelotes eram patriotas com motivações religiosas, que acreditavam que o povo de Deus não devia estar sujeito a nenhuma potência estrangeira.
Apocalíptica Muitos "apocalipses" foram escritos na Palestina do segundo século antes de Cristo em diante. Seu objetivo era trazer uma mensagem de esperança a um povo à beira do desespero. Nesses apocalipses aparecem relatos de visões extraordinárias supostamente recebidas por grandes homens do passado (Enoque, Elias, Esdras, etc.), e geralmente se faz uso de figuras ou imagens de significado secreto, números simbólicos e datas cuidadosamente calculadas. Uma de suas características é o acentuado dualismo, ou seja, um conflito cósmico em que estão envolvidos o bem e o mal, Deus e Satanás, a luz e as trevas. A presente ordem mundial é controlada pelas forças do mal, mas a batalha final está prestes a ser travada. Então Deus esmagará toda a oposição, o mal será destruído, e seu povo reinará em glória. O livro do Apocalipse, no NT, é um apocalipse cristão.
Esperanças messiânicas AS estranhas visões que aparecem nos apocalipses expressavam apenas uma entre várias esperanças alimentadas pelos judeus daquela época. Vários personagens messiânicos do AT ocupavam o imaginário popular: o profeta como Moisés (Dt 18.15-19), Elias que estava por voltar (Ml 4.5-6), entre outros. Mas acima de tudo aguardava-se a vinda do Filho de Deus, um rei guerreiro cuja missão era trazer vitória, paz e glória a Israel. Alguns pensavam em renovação espiritual; a maioria, em vitória sobre os romanos.
A palavra Messias (grego, "Cristo") inevitavelmente despertava esperanças de independência política, o que levou Jesus a ser cauteloso com o uso deste título. Ele veio a um povo "que esperava a consolação de Israel" (Lc 2.25), mas o que ninguém esperava é que isso fosse acontecer através de uma cruz.
Prosélitos Apesar de os judeus serem frequentemente mal interpretados e ridicularizados, um número considerável de gentios era atraído pela religião judaica e tomava a importante decisão de se tornar "prosélito". Isto envolvia circuncisão e batismo, bem como a obediência a toda a lei, inclusive o sábado e as leis alimentares. Era, na verdade, uma mudança de nacionalidade.
Muitos outros, atraídos pela fé monoteísta e pela rígida moralidade do judaísmo, que contrastavam com o politeísmo decadente de Roma, se identificavam com a fé e os ideais de Israel, mas não queriam se comprometer totalmente como prosélitos. estes, que em alguns casos eram ricos e influentes oficiais romanos, aparecem no NT sob o nome de "os que temem a Deus" ou "os piedosos" (At 13.26,43,50; 17.4).
Os samaritanos Estes eram descendentes de israelitas que haviam sobrevivido à destruição do reino do Norte e que haviam casado com gente estrangeira que havia sido transferida para aquela região depois da queda de Samaria em 722/1 a.C. Nunca foram integrados no reino de Judá e na época de Neemias a divisão se cristalizou. A construção do templo samaritano no monte Gerezim, nas proximidades de Siquém (Jo 4.20), levou os judeus a definitivamente repudiarem os samaritanos. Foi o rei Hircano quem destruiu o templo samaritano em 128 a.C.
No entanto, os samaritanos adoravam o mesmo Deus. Sua autoridade era a Lei ou os Cinco Livros de Moisés (mas não o restante do AT), cujo texto era praticamente o mesmo que o texto usado pelos judeus. Como muitos dos judeus, os samaritanos aguardavam a vinda de um profeta como Moisés. O ódio dos judeus em relação aos samaritanos se baseava mais em fatores históricos e raciais do que em qualquer diferença fundamental de religião.
Veja também:
- Os judeus sob o governo romano: Província da Judéia
- Partidos políticos e religiosos do tempo de Jesus
- O Povo do Livro
fico muito feliz ,com esse acaso que encontrei,e que aprendi muita coisa que a biblia não explicita,vou repetir outras vezes a mesma leitura para que eu possa assimilar,obrigado,Deus abençõe.
ResponderExcluirFicamos felizes em contribuir! Graciosa paz! Obrigado por comentar.
ResponderExcluirMaravilhoso conteúdo!!! É sempre muito bom aprender cada vez mais... está de parabéns
ResponderExcluirQue bom que tenha gostado. Fico feliz por apreciar o conteúdo e contribuir com seu deleite espiritual. Graciosa paz!Siga-nos para não perder novidades!
ExcluirTem algum livro próprio?
ResponderExcluirOlá! "livro próprio" do nosso site? Se for essa a sua pergunta, não, não temos. Graciosa paz :)
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