Chegou o momento de a augusta Vítima oferecer uma sublime prova de resignação e de coragem invencível em meio aos sofrimentos físicos e morais mais atrozes e imagináveis. Nesse drama tão comovedor, podemos distinguir quatro atos. O primeiro correspondente à agonia do Salvador e à Sua detenção no Getsêmani. O segundo, ao processo religioso diante do Sinédrio. O terceiro, ao processo civil diante de Pilatos. E o quarto, à crucificação e morte de Jesus.
A agonia do Getsêmani
O drama do Salvador começou com uma dolorosa agonia, porque somente a agonia da cruz pode ser comparada à do Getsêmani. Depois de Sua admirável oração, Jesus prosseguiu o Seu caminho e não demorou a descer ao vale de Cedrom, muito estreito naquela parte entre os muros de Jerusalém e o sopé do monte das Oliveiras. Passou por uma das pontes que havia sobre o leito quase sempre seco do rio, e logo chegou ao jardim do Getsêmani, situado na parte inferior da colina, em frente à esplanada do templo.
O Getsêmani, cujo nome em hebraico significa moinho de azeite, é um dos lugares mais visitados da terra. Tem a forma de um quadrilátero irregular, cuja superfície mede cerca de cinquenta metros, e está rodeado por um grande muro. Ao que parece, em tempos passados, teve dimensões maiores.
Jardim do Getsêmani |
Ao entrar no olival, cujo proprietário, talvez, fosse algum dos discípulos, Jesus se deteve por um instante e ordenou: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar (Mt 26.36). No entanto, levou consigo três dos discípulos: Pedro, Tiago e João, os mais leais e também os mais amados. Eles são para nós testemunhas de inestimável valor, pois por eles sabemos os pormenores da agonia do Getsêmani. Habitualmente, Jesus se isolava para orar (Mt 14.23), mas nessa ocasião sentiu a necessidade de ter por perto amigos em quem pudesse confiar.
Uma violenta onda de amargura acometeu a alma do Salvador. Os escritores sagrados a descrevem com enérgicas expressões, como uma mistura indizível de tristeza, espanto, tédio e fraqueza. O próprio Jesus revelou a seus três confidentes, com uma expressão verdadeiramente trágica, assustadora agonia de sua alma: A minha alma está cheia de tristeza até à morte (Mt 26.38a). Um homem comum teria sucumbido sob carga tão pesada. Mas o Pai sustentava Seu Filho, a quem reservava ainda outros sofrimentos. As dores que Jesus ora sentia não eram mais do que o começo da terrível agonia. Pelo que Jesus pediu: Ficai aqui e vigiai comigo (Mt 26.38b).
Separando-se dos três apóstolos, com um esforço violento de Sua vontade, pois Sua natureza humana lutava contra tais angústias, Jesus foi debaixo das árvores a fim de abrir mais livremente o coração diante do Pai. Depois, com um gesto que demonstra a Sua profunda pertubação, deixou-se cair de joelhos e prostrou-se com o rosto em terra.
Local onde Jesus foi açoitado pelos soldados. |
Nessa atitude de desolação, adoração e submissão, Ele rogou ao Pai que, se possível, afastasse dEle aquela hora terrível. O escritor aos Hebreus refere-se a esse momento dizendo que Jesus se ofereceu com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrar da morte (Hb 5.7). E Jesus orou: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o berber, faça-se a Tua vontade (Mt 26.42).
Certamente, o Pai podia ter afastado dos lábios do Filho do Homem aquele amargo cálice, mas, assim como Jesus, Ele sabia que, segundo os decretos eternos, a redenção do mundo deveria ser conquistada com os sofrimentos e a morte do Messias. A consciência desse fato deu a Jesus forças para conformar-se à situação.
Entretanto, o que Ele viu no cálice posto diante de Seus olhos para que experimentasse tão grande temor? Via, em primeiro lugar, o Seu sofrimento e a Sua morte - motivos suficientes para angustiá-Lo. Esse sentimento também era consequência de Sua encarnação. A alma, naturalmente, deseja estar unida ao corpo, e esse desejo existia na alma de Cristo. A separação era, portanto, oposta ao desejo natural. Por isso, a separação o entristecia.
Essa, porém, não era a única nem a principal causa das angústias de Cristo no Getsêmani. Diz Tomás de Aquino que, "se Cristo foi tão afligido, não foi somente porque ia perder a vida; foi também por causa dos pecados de todos os homens". Esse era o verdadeiro motivo de Sua agonia. O peso enorme de nossos pecados afligiu-O e O obrigava a pedir o favor da Divina Justiça. Em Isaías 53.4-6, diz o profeta a respeito de Jesus:
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.
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Filipenses 1:9-11