Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago (Jd 1.1). Judas não fez questão de lembrar-nos de que era meio-irmão de Jesus.
Mesmo antes de advertir a respeito da terrível apostasia que já havia se instalado no mundo dos seus dias e que haveria de piorar gradativamente, Judas assegura aos crentes que eles estão sendo guardados para Cristo! Aqui, ele nos fornece a resposta inspirada à oração de Cristo: Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me deste (Jo 17.11) (veja também 1Ts 5.23).
Amor, Paz e Misericórdia (Jd 1.2): Estas três coisas nos posicionam de maneira apropriada com relação a Deus, ao nosso próprio eu interior e aos irmãos que estão ao nosso redor. Somente quando elas forem multiplicadas é que estaremos capacitados para lidar com a grande apostasia.
A descrição da apostasia (Jd 1.4,8,10,16,19).
Judas descreve o fruto da apostasia usando nada menos do que 16 termos. S.Maxwell Coder descreve a apostasia da seguinte forma:
Um apóstata recebeu a luz, mas não a vida. Pode ser que ele tenha recebido a Palavra escrita até certo ponto; mas não recebeu a Palavra viva, o Filho de Deus. (Jude, the Acts of the Apostates.p.21)
(Veja também At 8.13-23; 2Ts 2.10).
A doutrina desses homens pode ser resumida da seguinte forma:
A. Eles são homens ímpios (Jd 1.4). Isso significa que eles não têm reverência para com Deus (2Tm 3.5).
B. Eles distorcem a graça de Deus, transformando-a em libertinagem (Jd 1.4). É isso que as seitas fazem.
C. Eles negam a Deus e dizem palavras duras a respeito da pessoa e da obra de Cristo (Jd 1.4,15). É isso que os heréticos fazem (Tt 1.16).
D. Eles entregam-se a sonhos sensuais (Jd 1.8).
E. Eles contaminam a carne (a sua e a dos outros) (Jd 1.8).
F. Eles rejeitam tanto a autoridade divina como a humana (Jd 1.8).
G. Eles ridicularizam a existência de anjos (Jd 1.9).
H. Eles difamam e amaldiçoam tudo o que não entendem (Jd 1.10).
I. Eles fazem o que bem entendem como animais irracionais (Jd 1.10).
J. Eles murmuram e encontram defeito em tudo (Jd 1.16).
K. Eles andam segundo as suas próprias concupiscências (Jd 1.16).
L. Eles são arrogantes (Jd 1.16).
M. Eles lisonjeiam e usam palavras bajuladoras por interesse próprio (Jd 1.16).
N. Eles causam divisões (Jd 1.19).
O. Eles têm uma mente mundana (Jd 1.19).
P. Eles não têm o Espírito (Jd 1.19).
Os exemplos históricos da apostasia (Jd 1.5-7,9,11).
Judas descreve sete indivíduos ou grupos de indivíduos que caíram na apostasia. Primeiro, ele admoesta os seus leitores a lembrarem-se de três exemplos conhecidos de apostasia no Antigo Testamento:
- O exemplo histórico da incredulidade de Israel (Jd 1.5).
- O exemplo histórico dos anjos que não guardaram seu estado original (Jd 1.6)
- O exemplo histórico da destruição de Sodoma (Jd 1.7).
A. Israel (Jd 1.5).
- Pergunta: quando e onde isso aconteceu? Tudo começou em Cades-Barneia, pouco depois de Israel ter deixado o Egito com destino à Palestina. Em Cades, eles foram influenciados por uma mistura de gente (um grupo de incrédulos formado por egípcios e outros povos não hebreus) que deixaram o Egito com eles, levando-os a rebelarem-se contra Deus.
- Pergunta: isso significa que todos os israelitas tornaram-se apóstatas e que, quando morreram, foram para o inferno eterno?
Não se trata disso (veja Êx 3.7; 5.1; Dt 33.29). O que isso significa é que, tragicamente, até os crentes podem deixar-se apanhar pela armadilha da apostasia e sofrerem por isso, sem contudo tornarem-se propriamente apóstatas (veja também 1Co 10.1-12; Hb 3.12,18,19; 4.1). A palavra apollumi, traduzida nesse versículo como destruiu, é usada em outro lugar para referir-se à morte física (Lc 15.17).
B. Os anjos (Jd 1.6).
- Pergunta: aqui Judas está referindo-se a Gênesis 6? Ao que parece, Judas está referindo-se a Gênesis 6. No caso do primeiro exemplo (Jd 1.5), as mentes dos leitores judeus seriam imediatamente transportadas a Números 14, que relata a grande rebelião de Israel em Cades-Barneia. Quando eles lessem o terceiro exemplo (Jd 1.7), eles prontamente se lembrariam da passagem apavorante registrada em Gênesis 19, a destruição incendiária das planícies de Sodoma. Mas, que outro capítulo lhes viria à mente no caso do segundo exemplo histórico se descartássemos Gênesis 6?
- Talvez, existam semelhanças entre o pecado dos anjos e o de Sodoma (veja a análise de Judas 1.7 abaixo). Dois fatores são importantes:
- O fato do seu pecado. As Escrituras são explícitas ao dizerem que existem dois tipos de anjos caídos - os que estão acorrentados e os que estão soltos. Os que atualmente estão soltos têm acesso aos lugares celestiais e aos corpos dos homens incrédulos (Mc 1.23; Lc 8.27; Ef 6.12). É claro que esses anjos que hoje estão soltos um dia serão julgados. O principal pecado deles foi seguir Satanás em sua torpe rebelião contra Deus (Is 14.12-17; Ez 28.12-19; 1Co 6.3). Os que estão acorrentados já estão encarcerados, como foi afirmado tanto por Pedro (2Pe 2.4) como por Judas. Aparentemente, foi para esse lugar que, em duas ocasiões, alguns dos anjos caídos que estão soltos imploraram que Jesus não os enviassem antes do tempo (Mt 8.28; Mc 1.24; Lc 8.31).
- A natureza do pecado. Acredita-se que o pecado que levou alguns anjos caídos a essa punição prematura pode estar diretamente ligado a Gênesis 6. Ali, os filhos de Deus aparentemente estavam casando-se com as filhas dos homens. Muitas pessoas acreditam que isso seja uma referência a anjos caídos (filhos de Deus) que estavam tendo relações sexuais com mulheres terrenas (filhas dos homens). O Dr. Kenneth Wuest, um estudioso do grego, chama a atenção para o fato de que as palavras como aquelas usadas em Judas 1.7 são um acusativo adverbial, referindo-se à frase seguinte, e ido após outra carne. Em outras palavras, a comparação é feita entre o pecado de Sodoma e o pecado desses anjos. Qual era o pecado de Sodoma? É claro que a resposta é a perversão sexual. Wuest explica o grego e a sua aplicação com relação à Sodoma: A palavra outra é a tradução da palavra grega heteras, que significa outro de uma espécie diferente. Ao cometer o pecado da fornicação, os anjos transgrediram os limites da sua própria espécie, invadindo o domínio de outra ordem de criaturas. O pecado de Sodoma era a transgressão de homens que ultrapassavam os limites impostos por Deus. (Word Studies in First Peter.p.103)
C. Os cidadãos de Sodoma e Gomorra (Jd 1.7).
Algumas das pessoas mais perversas dos tempos antigos viviam em Sodoma. Deus destruiu essa cloaca de pecado em Gênesis 19.
D. O diabo (Jd 1.9). Nesta passagem, Satanás é indiretamente incluído entre os apóstatas.
1) A fonte dessa afirmação: ela parece ter sido citada de um livro do primeiro século intitulado A assunção de Moisés [livro apócrifo]. Uma cópia desse livro foi encontrada em 1861. É claro que isso não significa que o livro todo fosse inspirado só porque Judas citou uma pequena porção dele. Paulo citou poetas pagãos em Atos 17.28 e Tito 1.12. Ele também mencionou o nome dos dois mágicos egípcios, embora seus nomes não sejam mencionados no Antigo Testamento (2Tm 3.8). Tiago também nos diz que a oração de Elias causou uma seca de três anos e meio, um fato que não está registrado nos relatos do Antigo Testamento (Tg 5.17; cf. 1Rs 17.1; 18.1).
2) A teologia dessa afirmação.
Por que Satanás desejava o corpo de Moisés? A assunção de Moisés cita duas razões por que Moisés não deveria ter um enterro decente.
- Porque ele havia assassinado um egípcio.
- Porque Satanás era o rei da morte e tinha direito aos corpos de todos os mortos.
Duas outras razões já foram oferecidas por teólogos para explicar isso, ambas as quais parecem mais razoáveis do que as mencionadas acima.
- Porque Satanás queria que o corpo fosse encontrado por Israel e adorado como uma relíquia sagrada. Isso parece razoável, já que a nação mais tarde adoraria a serpente de bronze que Moisés havia feito (2Rs 18.4).
- Porque Satanás queria impedir que Moisés aparecesse com Elias no monte da transfiguração (Mt 17).
3) O herói dessa afirmação
Deuteronômio 34.5,6 (NVI) diz: Moisés, o servo do senhor, morreu ali, em Moabe, como o Senhor dissera. Ele o sepultou em Moabe, no vale [...], mas até hoje ninguém sabe onde está localizado seu túmulo. Aparentemente, este Ele no v.6 é uma referência ao arcanjo Miguel, o herói dessa afirmação. Ele é mencionado três vezes no Antigo Testamento (Dn 10.13,21; 12.1) e uma vez no Novo Testamento além de Judas (Ap 12.7-9).
E. Caim (Jd 1.11).
O caminho (apostasia) de Caim é descrito em Gênesis 4.1-7. Ele ofereceu um sacrifício sem sangue a Deus. Esse é o caminho dos apóstatas liberais dos nossos dias. Eles apoiam-se na cultura em vez de apoiarem-se no Calvário (veja 1Jo 3.11,12).
F. Balaão (Jd 1.11).
Balaão foi um profeta falso e ganancioso mencionado em Números 22--25. Portanto, o erro de Balaão foi comercializar o ministério do evangelho. Muitos apóstatas modernos fazem isso.
G. Corá (Jd 1.11).
Em Números 16, Corá liderou uma rebelião contra Moisés, o porta-voz oficial de Deus. Por causa desse grande pecado, ele foi enviado para o abismo quando a terra abriu suas entranhas e engoliu-o.
Ao fazer o sumário dessa seção, S. Maxwell Coder argumenta que todas as classes de pessoas estão suscetíveis à apostasia:
Caim era lavrador da terra; Balaão era um profeta; Corá era um príncipe em Israel. Uma das razões para a seleção desses três homens talvez tenha sido demonstrar que a apostasia não está confinada a apenas uma classe de pessoas. Ela toca profetas, príncipes e pessoas comuns. Existem apóstatas nos púlpitos, nos palácios e nos bairros mais pobres. (Jude, the Acts of the Apostates.p.66)
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Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11